As Crônicas de Bruno - parte 1

Conheciam-se há três anos, namoravam há dois. Ele cursava química durante o dia e trabalhava a noite. Ela fazia estágio e estudava o dia todo. Só se viam nos fins de semana. Era pouco, muito pouco.

Ele passou dois meses pensando em uma forma de fazer o pedido. E o fez, pra si mesmo, centenas de vezes na frente do espelho quebrado da porta do armário.

Ligou.

Ela não atendeu. Talvez estivesse ocupada demais para lhe dar atenção, pensou. Ensaiou mais algumas vezes e voltou a ligar.

– Oi.

– Mari, eu estava pensando...

– Fala logo Bruno – interrompeu.

– Deixa. Outra hora eu falo. Beijo. – desligou, chateado.

Ainda era terça-feira, só se veriam sexta.

Ele morava em um apartamento pequeno, apertado. Pela janela do quarto via o movimento no centro. Olhou para o céu e procurou a lua, sempre que via a lua se lembrava dela, mas a fumaça da churrascaria que ficava na esquina não lhe permitiu.

Assistia à novela na sua pequena TV. Na verdade só esperava pelo sono. Seu dia fora estragado pela impaciência. Mas nem mesmo o sono, que insistia em fugir, tinha tempo para ele. Abriu a geladeira e pegou uma caixa de leite. Estava vazia.

– Que droga de vida! – esbravejou.

Naquela noite estava de folga, por isso estava em casa. A campainha tocou. Na hora imaginou: É ela!

Errou.

Ao abrir a porta se deparou com a mesma velha de sempre, a dona do apartamento. Nem era tão velha assim, mas estava bem desgastada.

– Ah. É a senhora...

– Vim cobrar o aluguel desse mês e o do mês passado. – tentou espiar o que acontecia lá dentro.

– Já disse que vou pagar. Mas ainda não recebi.

– Vou ter que te mandar embora daqui Bruno. Não que eu queira, mas não posso ficar sem receber o aluguel.

– Eu sei dona Neide, mas me dê uma semana, não mais do que isso, por favor.

– Está bem, mas essa será a ultima semana meu filho.