Zelo, Esforço e a Alma
A corrida alerta o corpo. Diz a ele que é necessário vigilância; esforço e zelo caminham juntos. Zelo é coisa de criança. Esforço de adolescente. Saber conciliar os dois, é o destino do homem experiente. É onde entra o componente: 'alma'. A balança, chamada qualidade de vida, deve ser configurada com diferentes elementos.
O zelo nos ajuda no carinho; no amor; na vontade de seguir, respeitando-se o amor oriundo dos pais. Mesmo que o Pai não tenha exatamente feito o mesmo caminho, na nova trilha, uma nova vida, deve-se identificar com ele. Esse é meu destino. Pôr amor, onde ele não quis. Aprender com ele, até mesmo aquilo que ele não me soube ensinar. Aprender com o aprender. O zelo é da ordem da preservação. É como a mata numa região urbana. Está ali instalada com o velho e mesmo objetivo: proteger as pessoas. Nos dando sombra, oxigênio, flores e frutos. Tudo isso, num ciclo permanente e natural. É da "natureza da árvore" caminhar nesse percurso. Dever-se-ia ser assim com a humanidade. Preservar aquilo que veio anteriormente: a continuação, via amor, da identificação interessante com o Pai.
No quesito esforço, é um passo adiante. É da ordem do corpo, e menos da alma. Não que o corpo possa andar separado da alma. Onde isso acontece, pinta a bobagem. A mulher boba, é justamente aquela que isola o corpo, fingindo-se não ter 'alma'. Deixa o cult, em prol do cultuar o corpo. O espelho se torna seu amigo, e com isso ela está perdida. O homem bobo é da mesma ordem. Esquece a alma, em prol de uma masculinidade - na verdade, infantilidade - disfarçada sob a forma de estar sempre mais bonito que os outros. Sua beleza até existe; mas é somente aparência; é somente corpo. É montada numa falsidade, pois na essência o que se tem são falas infantilizadas pelo egocentrismo infantil. Onde o egocentrismo infantil pinta, a competição se impõe sobre a cooperação. Aí o desejo de ser bonito, deixa de ser interessante, pois o que comparece é a vontade de reinar. Vontade de estar por cima dos outros. De ser melhor que os demais. Se a mulher se apega à esse homem, é porque também ela está iludida. Dois bicudos não se bicam. Nesse caso, eles não se bicam: se casam, cegamente. Perdidos no imaginário de serem melhores, se casarão e se acasalarão como se fossem iguais. Iguais entre eles e diferentes do restante. É o casal perfeito. E, justamente por serem perfeitos é que está a imperfeição. Pois até onde se sabe, a perfeição não existe.
Por último vem a Alma. Ela é a conciliação entre o zelo e o esforço. Entre a fantasia e a realidade, pela leitura que faço de Freud, e por isso, vindo da relação que existe entre essas duas moedas. A alma é resultado da forma interessante de tratar as coisas. É o amor vindo do zelo; é a disciplina, vinda da realidade. Não adianta ter prazer, se não há esforço. Não adianta trabalhar, se não há prazer. Não adianta querer ser robô e esquecer os humanos. Não adianta ser humano e esquecer o trabalho. A mediação está em ambos. É preciso ser moderado para ligar as duas coisas.