O “xato”

Continuo chato. Continuo cricri. A idade está me fazendo intransigente. Será?

Escrevo porque gosto. Não sou exímio escritor da língua portuguesa, mas, pelo amor de Deus, o que têm feito com nosso idioma me irrita. O descuido de professores e alunos universitários, então...

Na minha guerra contra estes deslizes, atrelei mais uma batalha e, tenho quase certeza, será inglória, pois os envolvidos não estão nem aí.

Depois de trinta anos, voltei a estudar; estou cursando o quarto semestre de Jornalismo, na Universidade Federal de Roraima (UFRR). Ao longo de alguns meses, detectei muitas agressões à língua portuguesa em material produzido pela Instituição. Algumas passáveis; outras condenáveis. Fosse eu o reitor tomaria medidas contra estes agressores, pois o nome da Universidade é exposto ao ridículo.

Vi erros grosseiros em pronunciamentos de professores e funcionários graduados da administração. Vi-os também em palestras e faixas anunciando cursos e eventos. Detectei erros em jornais impressos, materiais didáticos, releases e folders...

Há algum tempo, recebi um panfleto divulgando o I Encontro de Ciências Sociais da UFRR. Nele, um documento que continha poucas palavras, encontrei erros de grafia e de concordâncias nominal e verbal. Oito. Até o termo “Wapichana”(1) estava grafado assim: wapichana; com “ch”. Note-se que um dos temas do Encontro era “Considerações sobre o Nome em Língua Wapichana”(sic). Na sua última capa, o documento diz que o evento é uma promoção dos Departamentos de Ciências Humanas e de Ciências Sociais da Universidade Federal.

Não me contive. Enviei cartas aos promotores apontando os ataques à nossa língua e aconselhando maior cuidado quando da impressão e expedição de comunicados. O Departamento de Ciências Sociais respondeu dizendo que “admirava meu zelo por nosso idioma, mas que a elaboração do folder foi responsabilidade do Departamento de Ciências Humanas”; este não se manifestou sobre o assunto.

Conversando com um professor da UFRR, ouvi-lhe afirmar que existem gramáticos que dispensam a retidão no falar ou escrever em nossa língua. Não seria o caso, então, de dispensar o seu ensino? Se as regras não têm importância, por que criá-las?

(1) O Dicionário Houaiss de língua portuguesa, págs. 2795 e 2888, mostra quatro maneiras de grafar o termo que identifica a etnia: Uapixana, Uapitxana, Wapixana ou Waptxana.

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Aroldo Pinheiro
Enviado por Aroldo Pinheiro em 16/04/2007
Código do texto: T451681