Digo não querendo sim

Ouvia uma discussão sobre ter filhos. As pessoas jovens geralmente veem como sendo um fardo, como sendo a destruição da vida e da juventude. Como argumentos, ouvi gente dizer que gravidez quando novo, por volta dos seus vinte e poucos anos, é bom porque não existe um grande distanciamento entre a geração dos pais e do filho e ambos podem curtir as mesmas coisas. Imagina a magia de você mostrar à sua criança as coisas de que você gosta e ele gostar também, deve ser emocionante. Hoje a tendência são mulheres terem filhos depois dos trinta anos de idade e os homens de terem depois dos quarenta, a gravidez, quando planejada, é adiantada para se arrecadar dinheiro para conseguir manter a criança.

Se qualquer um me parasse na rua e perguntar o que eu acho sobre ter filhos, a primeira coisa que eu diria seria o que a minha casca de fora quer mostrar para as pessoas: não, eu não quero ter filhos, nem agora, nem depois. Convenhamos, o mundo está cheio de gente e cada vez pior, cada vez mais caro e com menos recursos. Já hoje se falta comida e daqui algumas décadas o novo petróleo será a água. Em que droga de mundo eu quero que meu filhos e netos vivam? Com isso, eu tenho um argumento forte, assim como essas meninas que dizem que não querem casar, o que geralmente também é uma mentira.

Por outro lado, ser pai deve ser maravilhoso, quando eu discutia paternidade com a minha ex namorada eu quase chorava só de imaginar. Eu sou uma pessoa que chora fácil quando se trata de vida e sua significância. É um ser que você tem na palma da mão e que dali um ano está correndo pela casa e falando coisas que você não tem ideia de onde saíram. Se tudo der certo, vocês enquanto pais e mães terão uma vida para cuidar e acompanhar, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, nos primeiros passos, palavras, dias de escola, de namoro, de crise existencial, de pentelhice adolescente, de medo de engravidar, de faculdade, de TCC, de tirar carteira de motorista, de se formar, de conseguir um emprego, de arranjar um par de que gosta, de ter netos e de novo o ciclo da vida se repete.

Vida. Esse espaço de, chutando uma média alta, oitenta anos. De vinte e nove mil dias. Colocando assim, em número frio, não parece muita coisa. Isso se não houver problemas, se você não morrer cedo, seja por doença ou por fatalidade. A vida é curta demais pra qualquer coisa, até mesmo pra se viver. Até mesmo para ser teimoso e se mostrar ser o que não se é. Ou até mesmo se decidir na indecisão de o quê ser.

Talvez seja só isso mesmo, uma fase. Hoje eu não quero isso mas amanhã eu quero. O mundo pode mudar, embora o meu pessimismo me deixe acreditar que não. De qualquer forma, pensamentos mudam, e isso tempera os dias a dias e anos seguintes.

GaP
Enviado por GaP em 13/10/2013
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