CARTA PARA ALGUÉM QUE TEM MEDO

Quero falar do teu medo. Falar para acalmar. Falar para esquecer. Falar para acabar. Quero falar do teu medo para que de tanto falar do teu medo teu medo deixe de existir. É como ficar repetindo teu nome incessantemente: em algum momento ele não será mais nada, não fará sentido, se desmanchará pelo ar como bolhas de sabão.

É engraçada essa coisa de ter medo do amor. Em todos os filmes, história e poesias o amor é aquela coisa linda, que chega lá no final, que alegra todo mundo, que faz o mocinho desafiar o mundo e a mocinha encontrar o sentido de sua vida. Nos contos-de-fada o amor não dá medo, ao contrário, ele é a fonte de coragem para viver todas as aventuras... Por que, então, quando a gente se depara com o amor assim, cara-a-cara, na vida real, as pernas tremem e o coração palpita de um jeito que parece que vai saltar pela boca? Por que a gente fica ansiosa, insegura, com vontade de fugir? Por que a gente acha que não vai dar certo nunca, que vai passar vergonha, que não vai fazer nada direito?

Sei lá.

Penso que o amor é grande - mas tão grande - que só pode mesmo matar a gente de medo. A gente vê o amor de fora e parece que ele é aquela coisa doce, que faz os olhos brilharem, que embebeda de alegria.

Mas quando o amor vem pra dentro da gente, daí a gente entende que é algo tão grande que parece que não vai caber. Que parece que vai machucar. Que parece que vai é atrapalhar a nossa vida ao invés de melhorar.

Quero falar do teu medo do amor que está prestes a se materializar. Você está certa. Sentir o amor é diferente de viver o amor. Porque você descobre que o amor não é aquele prêmio que vem no fim do esforço, não é o topo da montanha e não é, de forma alguma, o final feliz da princesa.

Viver o amor é o caminho. É a jornada. É o dia-a-dia. É a palavra, é o toque, é o olhar que substitui tudo. Viver o amor é conhecer o cheiro, escutar o silêncio, entender que o que se quer dizer, às vezes, é o contrário do que se está sendo dito. Viver o amor é dormir magoado e acordar com beijos, ou vice-versa. Viver o amor é perceber que não é possível amar todos os dias. Que têm dias que simplesmente não dá. Viver o amor é morrer de medo de perder o amor. Viver o amor é sonhar juntos em sonos separados. É sorrir para confortar, é chorar para acompanhar, é apenas segurar a mão para se sentir seguro. Viver o amor é ver o amor crescer, é alimentá-lo, mimá-lo, aquecê-lo nos dias frios e protegê-lo nos dias de sol. Viver o amor é antes de tudo amar a si mesmo. Porque o amor não se cria; se reflete.

Viver o amor, amiga, é compreender que o medo do amor não morre nunca, mas que pode servir de diversão, basta parar tudo, dar boas risadas e soprá-lo pra longe, até que se desmanche suavemente pelo ar.

Mulher de Sardas
Enviado por Mulher de Sardas em 26/08/2005
Código do texto: T45249