SEM DESTINO

Cedo, muito cedo, com a CTPS no bolso da calça amarrotada, ele viu sobre a mesa da cozinha um naco de pão amanhecido. A mulher dormia, coitada, abraçada ao bebê de dois meses. Não, ele não podia comer aquele pedaço de pão. Era o que tinha para alimentar a família.

- Já vai? - ela acordara.

- Já.

- Esse pedaço de pão é pra você.

- Tô sem fome - mentiu.

Ela entendeu, e não disse nada. A criança tinha prioridade.

Ele viu o sol nascer, grande e dourado lá no horizonte. Durante todo o dia sentiu o ardume dos raios que o chicotearam entre uma firma e outra.

Final de tarde, a lua, ainda sem brilho, já expulsara o grande astro, ocupando parte do céu, e Severino não sabia como retornar pra casa...