DESLIGUE O TELEFONE

Tenho a convicção de que devo fazer as coisas da forma mais simples possível. Vivo de acordo com o que acredito.

Assim, quando decidi fazer engenharia, simplesmente fiz. Quando não conseguia trabalhar como engenheiro, não havia quem me desse uma oportunidade, resolvi arrumar trabalho via concurso público. Não deu na primeira vez, deu na segunda.

Vou em linha reta na direção do que quero. Costuma dar certo.

A forma simples de pensar as coisas nem sempre faz com que eu seja bem compreendido. Por exemplo, para mim, telefone serve para telefonar. Para acessar a internet, um computador com tela ampla. Para fotografar, uma câmera de qualidade. Para conseguir uma boa foto, fotógrafo de bom nível, para conseguir um projeto bonito, um bom arquiteto.

Dia desses, para montar um jardim de quinze metros quadrados contratei um paisagista. Ficou bom.

Aprendi assim, quem quer ter boa organização deve ter o controle do que organiza, garantindo competências, atribuindo responsabilidades, promovendo a cooperação entre os envolvidos, divulgando o que é necessário ser do conhecimento do grupo, entendendo que nada se faz sem tempo e recursos, procurado consolidar uma cultura.

De tanto que observaram, pejorativamente, o meu eficiente telefone barato que só servia para telefonar, comprei um telefone “samsung” barato que pode acessar a internet e tirar uma foto de padrão discutível de resolução.

Não é grande coisa, mas é um Samsung. E esta marca está na moda.

Peguei o telefone, não li o manual e pensei que sabia telefonar. Dizem que aprendemos praticando. Pratiquei.

Liguei para o telefone do cartão de crédito.

A máquina atendeu e falou: - disque um para isto ou disque o número do seu cartão. Disquei. A máquina deu algumas informações e falou o meu saldo. Satisfeito, pensei desligar. Onde? Como?

A máquina deu um breve tempo e continuou falando: - disque dois para isto, disque três para aquilo. Eu aperte aqui, não desligou, apertei ali, não desligou, apertei lá, nada. A máquina já estava no oito, se quiser aquilo, disque nove. E eu nada de conseguir desligar.

A máquina informou que eu seria atendido em trinta segundos.

Tocando na tela posso acessar Calculadora, Relógio, Notas, S Planner, Maps, Gtalk, Navegação, YouTube, Timmusic, Gmail, Decolar, ChatON, Roteador, Play Store e um monte de outras coisas, mas onde desligar era o meu problema quando, finalmente, uma voz feminina atendeu e disse: - bom dia, em que posso ser útil?

- Por favor, senhorita, desligue o telefone.

Ela não entendeu, eu repeti, ela desligou.

Horas depois, minha filha explicava o que eu já havia descoberto. Dizia, “pai, é muito fácil”.

Sim, fácil é tudo aquilo que sabemos fazer.