A mão de Deus

Diego Armando Maradona é internado mais uma vez. As manchetes nos jornais sentenciam a desgraça do jogador argentino. No telejornal o apresentador faz questão de enfatizar a ausência de conhecimento lingüístico que lhe fora adquirido: “Maradona corre risco de vida”. Correrá mais risco se o ignorante do apresentador não retornar aos bancos escolares ou consultar uma gramática especializada para dar um fim em sua insistência cavalar.

Nos programas vespertinos os espaços que dantes eram preenchidos com notícias dos hilariantes e patéticos “shows da realidade”, hoje conseguem ibope através das discussões em torno da internação do craque argentino. Psicólogos, psicanalistas, terapeutas, autores de métodos curandeiros, juntam-se para encontrarem uma solução para o caso do camisa 10 mais conhecido da Argentina. Maradona à beira da morte! Será mais uma vez solucionado o caso do atacante, que achou ser melhor que Pelé? O psicanalista sugere um tratamento através de drogas... Ótimo! Mas não! São drogas que ajudarão o argentino. Outro sugere o apoio da família. Semana passada sua filha foi ver o clássico entre River e Boca Juniores, enquanto o pai piorava no hospital. Maradona desejava comparecer a este clássico, mesmo que para isto tivesse que sair de seu repouso. Tudo pelo time do coração... Que belo exemplo de fanatismo! Está aí um novo sintoma de patologia para que os médicos estudem no comportamento de “Dieguito”, carinhosamente aclamado por seus “patrícios”.

Na porta do hospital onde o jogador repousa, milhares de fiéis passam noites desejando melhoras; outros rezam incessantemente; aquele de azul e branco faz greve de fome para que seu ídolo melhore. Mulheres choram, crianças soluçam clamando pelo retorno de Maradona. Mas parece que o craque almeja cavar a própria sepultura, numa vida arriscada, cercada de bebidas, drogas, polêmicas. Um misto de violência e dor. Falta de amor, carinho, coisas que o dinheiro não consegue comprar. Um jogador rodeado pelo sucesso, acostumado às glórias, às conquistas, ao mundo aos seus pés. Mas acho que descobriu que apenas a Argentina era quem o aclamava, pois enfatizar sempre ser melhor que Edson Arantes do Nascimento e que seria superado por Diego Maradona foi o maior dos pecados cometidos pelos argentinos e seu ídolo, que de humilde nunca teve nada. Chegou a bradar que o gol feito contra a Inglaterra na Copa do Mundo de Futebol de 1986, com às mãos, havia sido guiado pelas mãos de Deus. A Inglaterra saiu derrotada por esse gol, perdendo a chance de seguir adiante na Copa de 1986... E Maradona espera pela cura através da mão de Deus!

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 17/04/2007
Código do texto: T453815
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