DOIS BESTAS
Tinha um rapaz e uma moça, ambos medrosos. Medo ou receio. Seja lá qual a denominação, o fato é que ambos pareciam uns tontos. Cada um o seu jeito de ser, com seus jeitos de aproximar-se, cada um com o seu medo de sofrer.
Ele era bobo, fazia piada de tudo, tinha um jeito charmoso de deixar a barba crescer, de falar coisas serias em tom de brincadeira. Fazia as garotas se apaixonar primeiro, para depois decidir o que fazer. Tudo isso por medo.
Ela possuía um jeito fácil de sorrir, de mexer nos cabelos, de falar coisas na inocência, de parecer ingênua e ser muito esperta. Fazia com que os meninos se apaixonassem por ela, para depois sim, decidir o que fazer. Tudo isso por medo.
Dois bestas!
Medo de que? Ambos não tinham medo de se apaixonar, mas sim da possível consequência que uma paixão costuma trazer. O medo de sofrer. Esse medo que muda as pessoas, que acaba fazendo com que outras pessoas sofram.
Porém parece que o destino tem um jeito engraçado de fazer as coisas, porque não quis o destino que os dois se conhecessem. Ah esse destino - sujeito irônico - criou essa situação dramática e ao mesmo tempo hilária.
Os dois nesse medo besta ficavam com essa besteira de ver quem tomava o primeiro passo.
E os dois brincavam com o futuro, falando sobre casamento, filhos, mas sempre naquele tom de chacota. Entretanto nos seus íntimos sempre pensavam: - “bem que poderia acontecer mesmo”.
Uma noite os dois namoravam no carro quando ele disse:
- E se eu me apaixonar por você? O que a gente faz?
Ela respondeu:
- Ué, não fazemos nada.
- É por que você sabe né, homem apaixonado fica besta.
- Não tem problema, ai eu fico besta também e ficamos os dois bestas.
Ele sorriu, beijou ela, respirou fundo e disse:
- Gostei! E a beijou.
Agora como vai terminar essa historia ninguém sabe, porque os dois ainda estão bem no começo do processo de deixarem de serem bestas.