VAMPIROS E POETAS

Meia-noite, aquela hora e instante só por-si capaz de suscitar em solidão e no silêncio da noite uma expectativa, ansiosa a quem desperto de insónia ou no afã concentrado do serão se expõe como presa fácil de fantasmas.

À meia-noite estão soltos todos os morcegos e vampiros, todos os negrumes inundam a alma, e o medo e o terror podem explodir na mente ao som ao som real ou surreal de um grito, um gemido, um silvo, um uivou, um ronco, um baque surdo, ou o ranger de portas, o tilintar de correntes arrastadas, o estilhaçar de vidros ou o estrilhar de conflitos entre vampiros, esses seres de mito por quem aliás nutro o mais profundo ódio e rancor.

Dos morcegos do meu sótão eu gosto, são amigos de longa data, herdados do meu bisavô, pacíficos e ordeiros não perturbam o meu sono e têm até uma tarefa sem contrato nem encargos de me livrar de parasitas ávidos de devorar romances, biografias, ficção, monografias, etc., sem critério algum senão nutrir-se de papel, ainda que sejam notas em papel moeda perdidas entre páginas ou notas à margem do papel.

Porque não odeio então, também os parasitas? Não sei mas creio que sendo seres do micro-mundo, estão mais a coberto dos meus ódios e estimas. Eu sei que morcegos e vampiros são família, de ramos distintos na verdade, mas distintos mesmo são os seus códigos de ética, moral e de conduta. Batman não se fez vampiro, mas adoptou sim um disfarce de morcego. Aí está um argumento em meu abono.Alinho ao lado desse paladino, desse herói de jovens e crianças, bom sinal de garantia para Batman e para a humanidade. A esses outros figurões que são vampiros e quejandos chamo bandalhos, pior muito pior que ser bandido, porque são falsos, melífluos, bajuladores, sacanas e vivem perigosamente ao nosso lado dia a dia, mas guardam a sombra e a noite para ser quem são. Derramam sangue e téctricas figuras em alvos muros e paredes, telas de televisão e de cinema e infectam como epidemia páginas e páginas de literatura. Uma pandemia com epicentro, presume-se, num castelo da Transilvânia. Parece-me ser hora para a intervenção da Organização Mundial de Saúde, tomando medidas que serão mesmo as de medir a saúde mental da humanidade.

Em todas as línguas os vampiros se exprimem e em todos os cantos e recantos do globo, até no Recanto das Letras eles lá estão assaltando diariamente o site.

Salva-nos a poesia essa preciosa música de sentimentos e de amor. Ah! Se não fosse o amor estaríamos já afogados nessa amarga e cruel vaga de horror e terror.

Aparte Baudelaire esse poeta maldito que felizmente deixou poucos descendentes, os meus amigos poetas esgrimem com armas que são almas de líricos, alvas, puras e eternas, com as quais eu creio nos hão-de levar à vitória sobre o Mal.

Arbogue
Enviado por Arbogue em 26/10/2013
Código do texto: T4543473
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