Professores, pasta, cadernos de chamadas e filhos pequenos...

15/10/2-13

Hoje, passei o meu dia junto aos meus alunos dando aulas. Fiz uma das ações que mais gosto na vida, não por falta de escolha, competência ou talento. SOU PROFESSORA, diferente "de estar dando aulas enquanto não arrumo nada melhor". Fiz uma opção de vida há vinte e cinco anos, já tive muitas dúvidas, crises, já mudei várias vezes as didáticas, metodologias e jeitos de atuar numa de sala de aula. Atrapalhei-me em diferentes momentos, assuntos, já dei aulas acompanhadas dos filhos por não ter com quem deixá-los. Esqueci pastas com cadernos, provas e trabalhos de alunos em diferentes lugares, mas sempre algum anjo me devolvia. Eram situações muitos engraçados: eu saia da escola cheia de pastas e cadernos de chamadas (principalmente na sexta-feira) com dois filhos pequenos, um com quatro anos e outro de um ano e poucos meses. Eles ficavam na escolinha que pertencia a escola em eu dava aulas desde que nasceram.

Feito a imagem, agora pensem o menino de quatro estava sempre agitado e correndo na frente e a menina de um ano e poucos sempre chorando e querendo colo, colo... Resultados: muitas pastas perdidas, provas, cadernos de chamadas nas pracinhas, nas paradas de ônibus, ao chegar a casa, batia o pavor. Em das situações voltei à parada do ônibus e a minha pasta estava lá intacta. Na outra circunstância, a pracinha era perto do lugar em que dava aulas, devolveram na portaria da escola. Mas, nem tudo foram flores, muitas provas foram perdidas e cadernos de chamadas também. Esclarecendo, nada disso me prejudicou, sempre possui um imbatível senso de humor e uma relação maravilhosa com meus alunos que riam às gargalhadas a cada uma das minhas confusões feitas. Depois a minha memoria é muito boa, talvez uma compensação pelo eterno desligamento frente à vida utilitária.

Houve também várias aulas acompanhadas dos filhos. Em uma delas, estava dando uma aula sobre o livro dos Sertões (Euclides da Cunha), explicando a parte da luta ( Revolta dos Canudos) e meu menino( quatro ano) estava sentado, quieto(coisa rara) prestando a atenção. Achei muito estranho e então lhe perguntei: - gostou da aula, filho? Ao qual ele respondeu com o rostinho muito sério: - mãe se teve uma revolta dos canudos, então também teve uma revolta das colheres? Todos os alunos acharam muito engraçado, mas ao mesmo tempo muito inteligente, pois ele fez uma analogia com os canudos de tomar refrigerantes e imaginou que as colheres poderiam se revoltar também. Em casa, expliquei que tipo de revolta, eu estava falando, porém ele não gostou da minha explicação, a dele era melhor.

Em várias vezes, as minhas alunas me ajudaram cuidar dos meus filhos em aula, era aquela história de sempre: creche fechado ou falta da babá. Como sempre fui muito profissional para não faltar e deixar meus alunos sem aulas, eu levava as minhas bagagens(meus filhos). Foram épocas felizes, engraçadas e desesperadoras ao mesmo tempo. Hoje, meus filhos já são adolescentes: o menino na faculdade e menina terminando o Ensino Médio. Minha vida é bem mais tranquila, não existem mais provas e cadernos perdidos nem filhos para carregar numa via cruzes de leva e traz pra creches, escolinhas e babá faltando. Olhando de longe e analisado, friamente, tudo que vivi nesses anos de profissão, os altos e baixos da minha vida, penso que em nenhum instante da minha vida, exerceria outra profissão!

Marisa Piedras
Enviado por Marisa Piedras em 27/10/2013
Código do texto: T4544763
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