A NOIVA QUE DESISTIU


Com dezessete, quase dezoito anos, a imagem no espelho refletia uma menina com corpo de mulher, com olhos verdes brilhantes, um sorriso radiante, com cabelos loiros dourados lisos e caídos descuidadamente abaixo dos ombros. Sua pele bronzeada contrastava com a cor dos seus olhos e cabelos, e estava maravilhosa dentro de um vestido de noiva branco, com a cintura baixa bem marcada e uma saia bem sequinha, pois não queria parecer um bolo.

Secretamente, nunca teve vontade de se casar fantasiada, mas não custava nada realizar o sonho de sua mãe. Era uma bela mulher e uma noiva mais bela ainda. Não sei que mágica acontece quando uma mulher se veste de noiva, são poucas que não ficam realmente bonitas, só mesmo as menos afortunadas.

Estava muito feliz com a proximidade do casamento com o solteiro mais cobiçado da cidade que ainda por cima era completamente enfeitiçado, enamorado e nutria um sincero e profundo amor por ela.

Apaixonou-se imediatamente no momento em que a viu, abraçada com seus livros, um canudo com projetos arquitetônicos e totalmente sem jeito tentava equilibrar uma régua T, uma escala, esquadros e uma juba, ela então estava com quinze anos e ele com vinte e dois.

Logo ficaram amigos e com quinze dias de amizade com o seu coração totalmente arrebatado pela donzela veio o primeiro pedido de casamento de muitos outros que viriam depois, (essa é uma outra estória), com direito a uma aliança de esmeraldas e brilhantes, para combinar com seus olhos, e junto um solitário de esmeralda, que segundo ele era para acompanhar o solitário de brilhante que ela sempre usava, para que ele não se sentisse tão solitário e deu um sorriso.

Pensando ser brincadeira experimentou os anéis e disse um sonoro sim e ele radiante logo quis marcar a data do casamento. Foi quando assustada percebeu que era verdade e disse estar brincando que não podia aceitar, que eles mal se conheciam, ele simplesmente respondeu que tinham todo o tempo do mundo para se conhecerem. Ela Falou que os anéis eram um exagero e que, foi interrompida com a seguinte frase "não contemple o mundo do fundo de um poço pois ele lhe parecerá pequeno".

Até então, não havia percebido que tinha acabado de fazer uma aliança com um homem, que além de completamente apaixonado estava disposto a lhe dar o mundo, e que não era uma brincadeira de adolescentes.

Com o tempo descobriu que ele sempre foi o homem mais encantador que conhecera, extremamente educado, cortez, elegante, cavalheiro, simples, sempre perfumado e impecável e apesar de suas grandes posses, era despojado e humilde, nunca ostentava em nada, era tudo natural, vindo de berço.

À medida que o tempo passava, mais encantada ficava. Ele sempre com uma surpresa diferente a cada dia. Uma manhã acordou com vontade de comer pêssegos, só havia um problema, não era época de pêssegos, comentou com ele. Três dias depois recebeu em casa duas caixas de pêssegos, afinal o amor da vida dele queria comer pêssegos, simples assim.

Outra vez a convidou para ir a uma praia mais distante, mas no meio do caminho parou no aeroporto, perguntou para que, ele disse que a praia distante era Ipanema no Rio e não em Vitória. Pegou seu avião e fez questão de ir pilotando até a Cidade Maravilhosa e voltaram a noitinha para casa.

Ele não parava de surpreendê-la. Era tudo bom demais para ser verdade.

O casamento seria em maio. No verão, a turma de amigos, todos de férias, saiam todas as noites e a animação era geral. Seria o primeiro casal a se casar, e o melhor da festa é esperar por ela.
Bem o verão acabou e tudo voltou ao normal.

Tudo não, a noiva estava diferente, depois que se viu sozinha com ele novamente, começou a sentir uma angústia inexplicável, e a cada dia o desespero tomava conta dela. Não sabia o que estava acontecendo, mas não queria mais se casar. Só conseguia pensar, ele é ciumento, vou ser uma princesa presa em uma gaiola de ouro, não vai me deixar trabalhar, não aguento tudo tão impecável, tão milimétrico, vai viver viajando, vai ter um monte de amantes e eu um monte de filhos, eu não quero essa vida. E isso se repetia o tempo todo.

Em uma noite maravilhosa de domingo depois de um jantar, quando ele foi levá-la para casa ele parou o carro em frente a praia e eles desceram para admirar o luar, ele a enlaçou pela cintura, a abraçou, apoiou o seu queixo em seu ombro e disse que a amava e repetiu, quer se casar comigo: e dessa vez ela se encheu de coragem e disse não. Ele rindo achou que fosse brincadeira, mas estava tão séria como nunca havia visto. Como não. Não.

Na manhã seguinte os dois comunicaram a todos: sentimos muito mas não haverá mais casamento.

Para a sorte da solteiras da cidade, o solteiro mais cobiçado estava livre e desempedido novamente e totalmente desconsolado.

Boa sorte a todas.


Suzanna Petri Martins
Enviado por Suzanna Petri Martins em 19/04/2007
Reeditado em 11/07/2007
Código do texto: T455224