Peripécias da Ditadura.

Decorriam os anos sessenta, governava em Portugal uma ditadura de quase quarenta anos, que tinha os dias contados, muitas forças internas e externas faziam uma oposição ao regime que ia sobrevivendo segurado pelos vários interesses económicos, que afinal eram o seu grande suporte, para assim manterem os interesses instalados juntamente com suas proriedades e muitos privilégios.

No ultramar tinha começado uma guerra de guerrilha sem fim á vista, que matava e estropiava os jovens. Nas universidades, os estudantes tomavam posição contra o regime tirano e obscurantista, que relegava o país para o isolamento e travava o desenvolvimento que se verificava pela europa e mundo, assim, também os estudantes eram uma pedra no sapato dos ditadores.

Nos campos do Ribatejo e Alentejo, os trabalhadores rurais, começavam a ter consciência que a exploração de que eram alvo, não era um destino a cumprir. Isso podia ser alterado com a sua luta, por melhores condições de trabalho e melhores salários.

No campo trabalhavam de sol a sol, com salários de miséria. Eram contratados semanalmente. Ao domingo , seu único dia de descanso, reuniam-se á tardinha na praça da aldeia mais próxima, onde os representantes do patronato, (nunca eles) iam contratar os trabalhadores que necessitavam para o trabalho no campo e por uma semana. Claro que ofereciam salários baixos e escolhiam a dedo os trabalhadores, os mais fracos e velhos raramente eram contratados, esses, para não morrerem de fome iam de herdade em herdade pedir trabalho de chapéu na mão, mesmo que fosse mais mal pago.

Mas os tempos começavam a mudar, para isso muito contribui a informação clandestina que algumas forças políticas, também elas na clandestinidade, faziam chegar pela calada da noite em pequenos panfletos que espalhavam, e ainda em algumas reuniões secretas realizadas no meio do mato para esclarecimento dos trabalhadores.

Muito contribuíram também as rádios, que começaram a emitir de países estrangeiros, e que eram escutadas em grupo e com muito cuidado, não fossem descobertos pelas autoridades que sempre rondavam, ou por algum informador da PIDE, ( polícia internacional e defesa do estado). Assim os trabalhadores rurais começaram a exigir nessas praças melhores salários, e também, as oito horas de trabalho diário, e não de sol a sol.

É claro que isso ia contra os interesses instalados, que afinal era o regime, o que motivou uma repressão sobre os trabalhadores, alcunhando-os de revolucionários, e lá vinham pela calada da noite, a pide prender os que mais se destacavam, ou quem lhes aparecesse pela frente. Essas pessoas eram levadas para interrogatório, lá eram torturadas e ficavam presas sem culpa formada até lhes apetecer.

Aconteceu um caso caricato entre muitos, porque, as forças policiais do regime seguiam cegamente as instruções á letra, não tendo grande preparação, prendiam todos de quem desconfiavam.

No campo, começaram a surgir levantamentos de rancho, não era mais que uma greve. Quando isso acontecia, os patrões comunicavam ás forças policiais que acorriam solícitos a prender quem assim procedia.

Numa dessas greves, feitas por um rancho de trabalhadores rurais, os quais exigiam melhores salários, foram presos quase todos, entre eles, um pobre desgraçado, solteirão, que vivia sózinho, e que tinha a alcunha de "Lacrau". Dada a sua extrema pobreza, calçava uns tamancos de madeira feitos pelo próprio. Caminhavam vários homens á frente da guarda com as armas apontadas e os levavam para os carros, para seguirem para interrogatório. Apressando os ditos trabalhadores, o "Lacrau", com dificuldade em andar com os seus pesados tamancos, largou o seguinte desabafo: senhor guarda eu andava mais depressa, mas com estas metralhadoras nos pés não consigo! Referia-se aos pesados tamancos que levava calçados. Os guardas muito expeditos e sempre desconfiados, tal como eram ensinados, mas estúpidos, quase iletrados, logo mandaram parar os homens e fizeram o desgraçado do "Lacrau" descalçar os tamancos, para verificarem se levava metralhadoras lá dentro. Claro que isso provocou o riso geral entre os presentes. Foi assim que o regime ditatorial, com toda a repressão sobre quem trabalhava e se manifestava contra as regras impostas que se manteve por mais uns anos, até não ser mais possível manter calado e explorado o povo, e também manter uma guerra inútil e sem fim á visata onde morriam e ficavam estropiados milhares de jovens.

Finalmente, em abril de setentae quatro,com os Capitães de abril no comando, se deu a revolução dos cravos e o fim deste regime de ditadura.

LuVito.