O PAPEL DOS PAIS NA EDUCAÇÃO SEXUAL

Podemos dizer com segurança que a geração de adolescentes e jovens de hoje serão os adultos de amanhã tem um bagagem de conhecimento sobre a sexualidade humana muito maior que os da nossa geração (seus pais), pois eles aprendem sobre sexo na escola, com os amigos, com as namoradas, nas revistas, nos programas de TV e na internet. Mas, de forma alguma, podemos dizer que conhecimento sobre sexualidade humana é igual à maturidade, pois a grande quantidade de informação que esses adolescentes e jovens têm não significa necessariamente maturidade para saber gerencia-la, e por isso mesmo, eles estão confusos. Pior, seus pais também estão confusos.

As adolescentes e jovens não precisam de informação, mas de formação. Não poderia ser diferente; essa é a idade das descobertas e que considera muitas atitudes dos adultos, dos líderes como coisa ultrapassada, caduca e, aprender a lidar com elas leva tempo, filtra-las leva tempo e amadurecimento. Não está em discussão a rebeldia dos jovens, mas a ausência de limites que não foram colocados pelos pais.

No entanto, precisamos pensar, se eles precisam de formação, como podemos transmiti-la? Outra coisa que está faltando são as amarras importantes do passado, não como uma revisão, no sentido de retroceder, mas com uma nova leitura para inverter situação. Se fizermos uma análise, verificaremos que as gerações de pais com idades em torno dos 45 aos 65 anos, foram os jovens, adolescentes e crianças nas décadas de 60 e 70 do século XX. Portanto, um período marcado por revoluções de toda ordem: da contracultura, do movimento hippie, cujo lema era “paz e amor”, de peças como “Aquários” encenadas em Nova Iorque nos anos 70 e 80, das revoltas estudantis, mostrando aos adultos de então seu descontentamento com o preconceito, a discriminação e a hipocrisia, da ditadura militar que trouxe mudanças significativas para o país.

No entanto, essas crianças, adolescentes e jovens cresceram e amadureceram, constituíram famílias, e a educação dada aos seus filhos foi muito diferente da que receberam. Deram mais liberdade, mas não souberam ensinar que liberdade sem responsabilidade é utopia. A liberdade sexual foi à bandeira levantada por eles no passado em reação à educação repressora e castradora de seus pais, e seus avós.

Quando a epidemia de Aids se espalhou pelo mundo nos anos 80, surpreenderam adultos, jovens e adolescentes sem saberem o que fazer, como se resguardar, e o que fazer para reparar os erros cometidos no passado. Deram liberdade, mas não souberam ensinar seus filhos a se protegerem, não ensinaram se precaverem quanto às doenças decorrentes da promiscuidade, da falta de higiene corporal, da falta de conhecimento adequado, da própria sexualidade.

Entrevistamos os alunos de várias escolas e constatamos através de suas respostas que há pais liberais, que não se preocupam em ensinar sobre a prática sexual aos seus filhos, e alguns mesmo sendo liberais, buscam dar informações, ainda que com alguma reserva, mas verificamos também que há os pais conservadores, que se preocupam até demais, e por essa razão não dão educação sexual, ou ao contrário, dão uma educação deficiente por terem medo de falar no assunto e iniciar um processo que poderia vir ser adiado.

Quando o assunto é vida sexual, não há um manual pronto e acabado, capaz de responder todas as perguntas, pois cada família tem suas regras, e formas de trabalhar no dia-a-dia a sua intimidade. À hora certa para falar será aquela em que a criança, jovem e adolescente procurar saber de alguma coisa, e tiver confiança de que pode se abrir com seus pais. A relação deve ser aberta, mas discordo da maioria que afirma que essa relação deva ser de iguais. Filho não é amigo, pode ser amigo, mas jamais confidente de pai e mãe. O que quero dizer com isso, é que, pais devem estar abertos aos filhos, para ouvi-los e serem ouvidos, mas sua condição de pai e mãe deverá sempre ser evidenciada. Isso pode parecer absurdo, mas não é. Estávamos falando em formação, em ensinar limites, como poderemos ensiná-los se não soubermos nosso papel de pais?

Ao falamos em intimidade, formação e limites precisamos estar atentos para não querer impor uma regra rígida. Trocando em miúdos, os pais não podem interferir ao ponto de determinar como, quando e com quem seus filhos terão sua primeira relação sexual. Falar é fôlego! Quando pensamos que acontecerá, que chegará a vez da nossa garotinha, que cuidamos tão bem, dos nossos meninos, e sentimos um aperto no coração, pois não gostaríamos de vê-los sofrer. E, nessa reação contrária ao corte umbilical, e na visão de deixá-los voar nos parece cedo demais. Queremos reprimir essas experiências e dizemos “não”. Parece contraditório? Mas não é! Os filhos também precisam aprender a dizer não para nós, seus pais; caso contrário, não saberão dizer não ao traficante, ao marginal que quiser vender-lhe drogas, ou alicia-lo para o crime, ou ainda, não saberá dizer não quando for abordado por alguma individuo portador de doenças sexuais.

Os pais não devem ficar receosos de falar sobre sexo, é preciso deixar as coisas acontecerem normalmente. Se você sabe que seu filho tem uma vida sexual ativa, não adianta se esquivar, fingir que não sabe, pois as conseqüências podem ser, no mínimo constrangedoras, como ver sua filha adolescente grávida, ou filho como futuro pai, vê-los sofrer com alguma doença sexualmente transmissível, ou pior, vê-los pegar Aids e sofrer junto com eles, até o último minuto de suas vidas.

Todos nós sabemos que o quarto do adolescente e jovem virou o escritório e onde ele recebe visitas, mas há algo que deixa os pais de cabelo em pé. É quando o namorado ou namorada entram no nesse espaço, deitam na mesma cama, e dormem juntos! Tenho um amigo que diz sempre que hormônio não tem moral. Logo, evitar futuros contratempos é uma necessidade. Os pais devem estabelecer limites dentro de casa e se não estão à vontade com essa atitude dos filhos, têm o direito de falar abertamente e deixar claro o local adequado onde devem conversar. Eu sei! Isso significa limitar o espaço de contato, e de certa forma vigiar, e o que você não quer é ser visto como pai ou como mãe repressora, mas é sempre bom lembrar que aquilo que veio fácil, que é muito liberado, normalmente se perde o interesse.

Infelizmente, o dito popular “lavou, está novo”, ainda vigora plenamente para os homens, mas para as mulheres, essa ainda não é uma realidade plena, e de fazer com o corpo o que se quer, pois há uma pseudo-liberdade para as mulheres e, o dito popular não esta plenamente em vigor. Aliás, como diziam nossas avós, ”prudência e caldo de galinha não faz mal a ninguém”.

Portanto, caros pais, junto-me a vocês nessa interminável carreira de ser mãe. É interessante! Haverá sempre três gerações em conflito. Avós, pais e filhos! Um em contradição ao outro. Isso é que é diversidade, isso é o que podemos chamar de período de transição, sempre cheio de surpresas, com alguns contratempos e com algumas rusgas. Foi neta, sou filha, sou mãe, serei avó se assim Deus me permitir, a cada faze experimento situações novas, sentimentos novos. Em fim, isso é viver.