RETORNO À ORIGEM

O vento acariciava nossos corpos seminus. O sol tocava-nos carinhosamente, como quem toca a pele de um amigo há muito tempo não visto. Nossos pés alegravam-se, é certo que meio desengonçados, ao sentirem a fricção da areia branca da praia.

Ah! há quanto tempo não íamos à praia! Minha esposa e eu sorríamos como crianças longe do olhar vigilante dos pais. Havia a nossa frente uma praia! Uma imensa praia! Uma linda e gostosa praia só nossa. Estávamos felizes. Quando estamos felizes, nem nada e nem ninguém consegue embotar nossas vistas. Tudo é belo. Tudo é sinfônico.

E por falar em sinfonia, deitei-me ao chão de areia, bem próximo aos pés de minha amada, fechei os olhos e, juro, juro mesmo! o quebrar das ondas, exatamente no limite estabelecido pelo Criador do universo, foram qual música erudita aos meus ouvidos. As ondas sonoras das ondas do mar ao tocarem meu corpo fizeram-me balbuciar à minha esposa: “que música maravilhosa é o som das ondas!” Fiquei ali deitado e imóvel, por um saboroso tempo, escutando aquela música marinha.

Toda aquela beleza e frescura da natureza era nossa serva. Ela estava ali para nos servir, para nos dar prazer e fazer-nos viver. Uma vida bucólica! Só prazer.

A vasta extensão de água a nossa frente, contrastando com a cobertura celeste e o branco do tapete de areia, fazia me sentir pequeno e vulnerável; mas ao mesmo tempo senhor de tudo aquilo e também da felicidade.

Penetrar com nossos corpos na água agitada pelo vento foi uma sensação inexplicável. Havia uma certa timidez. Dávamos um passo a frente e dois ou três passos atrás. Era como se o mar estivesse brincando conosco, pois ora nos puxa para dentro de si ora nos empurrava sem, no entanto, nos afastar de si. O quebrar das ondas sobre as nossas cabeças fazia-nos rir. Era como se todo problema, todo cansaço, todo estresse fora levado para uma lugar tão tão distante.

Ao sair da água o vento, enroscando-se em nós e cantando em nossos ouvidos, excitava nossa pele, tentando nos secar. O sol abraçava-nos, aconchegando-nos ao seu colo, reavivando nosso sangue. Havia um total equilíbrio entre a natureza e nós.

Realmente somos seres pertencentes a natureza, embora estejamos sobrevivendo em um habitat petrificado e ensandecido pelo “progresso”. Lugar este onde o vento trafega de maneira sofrida, espremendo-se pelas ruas estreitas da cidade, onde o sol abrasador não esconde a sua fúria para com os homens destruidores da natureza, onde a água é aquecida pelos canos que vivem aterrados pelos asfaltos e paredes de nossas casas e com isso se torna uma disseminadora de parasitas e outros tipos de doenças.

Manoel Barreto
Enviado por Manoel Barreto em 19/11/2013
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