SIABELA

Siabela, nome estranho, mas era assim que chamava-se a velhinha, que fez parte da vida da menina loira que usava o cabelo preso, no alto da cabeça, por uma fita xadrez.

Borboleta, era como a anciã chamava a menina, quem sabe pelo borboletear do rabo-de-cavalo, ou pelas peraltices e inquietudes que faziam a menina de sete anos não parar quieta nem por um minuto.

Todas as tardes as crianças brincavam naquele terreiro que estendia-se além da cozinha de chão batido, onde a velhinha ficava fazendo seus chás e suas misturas com as quais atendia doentes, os quase a consideravam uma curandeira. Ela fazia também orações e suas preces pareciam dar tão certo que chamavam-na benzedeira. Tudo era envolvido por muito mistério. Mistério esse que acontecia na pecinha junto à cozinha, onde as crianças espiavam, através das frestas da parede, o ritual que era composto de orações e clamores os quais acompanhavam as benzeduras que Siabela fazia para os vizinhos que vinham até ali, com as mais diversas mazelas.

A menina teve sarampo e seu corpo ficou cheio de bolhas que coçavam, e que ela arrebentava com bolacha Maria, que eram para serem comidas junto com leite quente. Precisou ficar acamada. Sossegou a borboleta. Na ocasião recebeu a visita da vizinha benzedeira que trouxe um preparado que passado no corpo deixou a menina boa em três dias.

Muito tempo passou. E junto com essas lembranças antigas, com esses pedaços de passado, surgiu na mulher adulta estudante de Português a dúvida: o nome da velhinha não deveria ser "Sinhá Bela"?

CEIÇA
Enviado por CEIÇA em 20/11/2013
Reeditado em 21/11/2013
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