Como eu desejava poder dizer isso a ela hoje!

Tem momentos que a gente é abatido pela saudade de pessoas que fazem parte de nós e querendo ou não, a nossa mãe marca a nossa vida da forma mais intensa, até porque somos parte dela, não tem jeito!

A relação de mãe e filho nem sempre é marcada apenas pelo amor, há conflitos inevitáveis na maioria das vezes e comigo não foi diferente.

Vivi com minha mãe só até os meus 14 anos, quase 15 quando parti e não mais voltei. Nossa relação era um tanto conflitante, não sei exatamente porque, mas desconfio que talvez pelas nossas diferenças e ao mesmo tempo, semelhanças. Eu nunca entendi na época mas alguma coisa "não batia", "não fechava" entre eu e ela. Muitas vezes pensei: adotada eu não poderia ser, porque quando cheguei, as coisas não eram em nada favoráveis a se adotar uma criança, e também eu não era tão diferente em aspectos físicos. Descartei a ideia de ser adotada,era absurda! Mas muitas vezes eu me vi pensando: por que não me deu em adoção? Minha mãe era uma pessoa muito simples, nascida e criada na roça, a mente um tanto fechada para o meu gosto, e infelizmente até a sua forma de amor (que hoje não tenho dúvida mais de que me amou do jeito que sabia e podia), muitas vezes me causou danos. Algumas fobias como a hidrofobia que me impedia de chegar perto de qualquer corpo d'água como uma represa, ou açude e só de ver de longe eu suava frio, passava muito mal.Até hoje ainda não sei nadar, mas me curei dessa fobia ao conhecer o mar quando casei aos 20 anos.Já consigo chegar às margens de uma represa e outro dia andei de pedalinho em uma, na parte funda, devidamente paramentada com coletes salva vidas, claro e acompanhada. Mas voltando à minha mãe, apesar de tudo, tem momentos que morro de saudade dela! A maneira com que se empenhou para que eu tivesse conhecimento até onde era possível no lugar e na época, me fazem ter consciência de que fui uma ingrata tantas vezes!

Ela queria o melhor para mim, óbvio. Me levou à escola, me incutiu profundo respeito pelos que faziam parte dela, me ensinou tudo que podia, me falou dos perigos do mundo, e isso me foi vital tantas vezes!

Lembro-me que ela um dia me levou para aprender crochê em um sítio vizinho com uma moça, eu até aprendi, mas não conseguia fazer nada direito porque não obedecia a contagem dos pontos. Mas aquele pouco que aprendi foi suficiente para com a mente mais calma sem os pensamentos da adolescência organizar os pontos e seguir a receita. Reaprendi sozinha praticamente e uso esse tecer para aliviar tensões da vida, uma verdadeira terapia que me faz passar horas ocupada sem lembrar de dor ou problemas, eles estão ali, mas o tecer me faz ignorá-los. E isso devo à minha mãe.Infelizmente não fiz nada para ela, as nossas diferenças se acentuaram quando casei, nos afastamos mais, além, dos mais de 1.000 km que nos separavam! E as poucas vezes que nos vimos em quase duas décadas foi breve, enquanto ela morou com minha irmã por um tempo por precisar de cuidados. Depois foi embora e nunca mais nos vimos! E eu só queria poder tê-la ainda viva nem que fosse para discutirmos nossas diferenças, porque de verdade, mãe nenhuma, das que amam os filhos mesmo imperfeitamente, mas amam, ah não deviam morrer! Mas morrem e o que eu digo aos jovens é: não dê valor hoje e amanhã estará chorando a angústia de ter perdido...

Sinto muita saudade apesar de tudo... Eu também a amava do jeito que sabia, do jeito que era possível. Espero um dia poder sanar todas as nossas dores, porque acredito na ressurreição em um tempo futuro, que só Deus sabe quando (João 5:28,29).