A SABEDORIA

Em que consiste a SABEDORIA? Como se a obtém? Costuma-se dizer que os velhos, pela experiência de uma vida longa, a conquistam. Não sei. Hoje, aos 89 anos tenho dúvidas se a possua. Conforme já disse em crônica anterior, obtive experiência e essa experiência me tem ajudado a viver. É comum a gente ler ou ouvir histórias associando a velhice à sabedoria; mas não acredito que todo velho seja um sábio.

Talvez seja considerada uma ousadia minha querer falar sobre a SABEDORIA, tema que julgo transcendental. Entretanto, permitam-me expressar o que penso a respeito. Primeiro, quero fazer uma quase sutil distinção entre sabedoria e sapiência; enquanto esta requer erudição e suficiente cultura, através de muito estudo, a sabedoria não é privilégio dos sábios, mas da capacidade de julgamento do comportamento humano, da observação dos acontecimentos e de saber manter sempre na vida uma conduta sensata. Na minha opinião, na forma de viver de antigamente era mais provável obter-se essa capacidade, esse dom. A vida era mais tranquila, era mais comum o recolhimento espiritual para reflexões. Atualmente, isto é, desde os últimos decênios do século passado até os dias de hoje, a vida vem sendo gradativamente mais agitada e insegura por vários fatores – a violência, o trânsito caótico, as drogas, a corrupção, a crescente desagregação familiar – tudo concorre para o atual clima de insegurança e preocupação permanentes, dificultando levar-se uma vida arrazoada. A tecnologia predomina sobre a arte. O computador, com a internet e seus inúmeros outros recursos, se, por um lado, traz inegáveis benefícios, por outro tem a utilização perversa que todos conhecem.

A meu ver, são mais raros, atualmente, os grandes e clássicos romancistas, contistas, poetas, compositores, os grandes pintores, enfim, os grandes artistas. Até o cinema, embora eu não venha acompanhando a sua provável evolução. penso que não se produziu nos últimos anos filmes iguais àqueles que víamos no passado, filmes que marcaram época e atores cuja atuação ainda é recordada.

Lembro de que, quando era jovem, falava-se que existiam cidadãos – o Prof. Raimundo Nonato da Silva, historiador, numa de suas crônicas falava a respeito dos chamados “cidadãos de Plutarco” - homens que, pela vida prudente e pelo estudo se tornavam capazes de dar boa orientação às pessoas que os procuravam para um aconselhamento. Até se dizia que um fio do bigode era penhor de garantia. Hoje, eu não sei se isso anda acontece.

Voltando à SABEDORIA creio que ela pode ser adquirida não apenas com a experiência, mas que a leitura dos grandes pensadores e mesmo dos mestres da ficção (contos, novelas, poemas célebres, excelentes romances, além de obras de imortais pensadores que influenciaram a vida de milhões de pessoas através dos séculos. Convém dizer que nenhuma excede em riqueza de ensinamentos à Bíblia Sagrada, que contém um capítulo intitulado “O Livro da Sabedoria” de autoria do Rei Salomão, cuja leitura è salutar e, por ser salutar à vida espiritual, deve ser obrigatória.

Resta-me só, repetindo, assegurar que a velhice, por si só, não torna ninguém um sábio. Se quem a houver alcançado por ter levado uma vida de observação, de estudo e de reflexões, com certeza, além de ter obtido boa experiência, provavelmente o aproximará de um sábio.

Máximo Gorki afirmou: “A sabedoria da vida é sempre mais profunda e mais vasta do que a sabedora dos homens.”

Perdoem-me os meus eventuais leitores o aventurar-me a escrever sobre tema considerado transcendental, certamente superior ao meu nível intelectual. Quem quiser conhecer a verdadeira sabedoria busque-a, como já disse, na leitura da Bíblia. A leitura de “Onde Encontrar a Sabedoria”, de Harold Bloom, poderá ajudar a buscá-la. Aliás. esse mesmo autor escreveu “Gênio” (Os 100 autores mais criativos, a seu critério naturalmente), contendo 828 páginas, onde não dá destaque aos filósofos, mas apenas aos poetas, romancistas e dramaturgos. Dos brasileiros só consta o nome de Machado de Assis e cita, também Jorge Luiz Borges, nascido na Argentina.

Finalmente, resta-me confessar que, em certo sentido, contrariei o que diz o Dicionário de Filosofia quando fala de SABEDORIA. Eis: “Sapienza é o conhecimento superior das coisas excelentes. Caracteriza-se por ser o grau mais elevado de conhecimento, ou seja, o mais sólido e completo.”

Eis, suscintamente, o que julgo ser a SABEDOIA. Não sei se o leitor concordará com o meu pensamento. Mas, com certeza, concordará em que DEUS é que é o grande sábio.

Natal, out/2013

Obery Rodrigues
Enviado por Obery Rodrigues em 23/11/2013
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