A moça na loja de roupas

A moça na loja folheia revistas, enquanto clientes não vem. Tudo é quieto, escuro, não há radio, pouca luz vinda de uma porta aberta.

Ela ve as folhas, folheia rápido porque já as viu muitas vezes.

Uma pessoa entra, ela sorri, mas está só olhando, não pede ajuda, sai sem comprar nada.

Ela volta a ler sua revista e ver caras e falar consigo.

Os sons vem de fora, ela não tenta modifica-los. Eles entram por seus ouvidos que tanto Chopin já ouviram, mas agora ouvem o que vem de fora.

Ela não os muda.

As unhas grandes dos dedos enormes, hoje quebrariam ao tocar o teclado de marfim, mas agora eles vão a lingua para mudar mais uma página.

E os clientes não vem.

Os manequins assistem também passivos às mudanças das páginas.

Alguém passa lá fora, carteiro talvez.

Outro passa, esse lembra alguém.

Um desenhista olha para seus olhos que já tanto choraram perdas. Ele pede ajuda, mas ela não entende e volta os verdes olhos para a revista.

E os clientes não vem.

Mais um estranho entra, fala alguma coisa que ela não entende. Ele não é totalmente estranho, lembra alguém vindo do passado. Até uma camera antiga ele carrega. Ela responde mecanicamente sobre computadores e volta os olhos para a revista.

Ele fala de coisas do passado, ela sorri.

Ele oferece uma fotografia. Ela se assusta, mas aceita.

E por alguns minutos fica olhando a foto vermelha, como vinda do passado, com letras antigas escrevendo coisas modernas.

Ela pensa no que aquilo significa.

Pelo menos é diferente da revista.

O estranho sai, abre os braços como se pudesse voar.

E os clientes não vem.

Fim do dia.

E os clientes não vieram ou se vieram não importa.

Hora de fechar o caixa e a única coisa que ficou foi a foto vermelha com letras antigas e lembranças de poesias do passado.