PODE ISSO, ARNALDO?

Em virtude dos avanços sociais ocorridos no Brasil, em decorrência dos programas “assistencialistas” implementados pelo governo federal, presumo que a pirâmide social tenha hoje uma subdivisão completamente diferente daquela de trinta anos atrás. Ainda que a linha de pobreza absoluta tenha diminuído, estou convencida de que as pessoas que nela estão padecem de habilidades e competências que as impedem de ascender socialmente.

Essa crença aumenta o meu entusiasmo quando tenho de ensinar para meus alunos do Curso de Pedagogia um assunto fascinante: avaliação da aprendizagem. No desempenho dessa tarefa eu uso como “pano de fundo” os papéis da escola, a partir dos 04 pilares da educação para o século XXI, constantes no relatório da Unesco desde 1999: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, e aprender a ser.

Costumo iniciar o meu trabalho contrastando as epistemologias (tradicional e a construtivista sociointeracionista) e refletindo sobre os papéis da linguagem, do mediador e da escola na vida do aluno. Faz parte do assunto que eu ensino informar sobre os pensamentos dos espanhóis César Coll e Anthony Zabala, do francês Philippe Perrenoud e do psicólogo americano Benjamin Bloom. Com eles, aprendemos, respectivamente, sobre os tipos de conteúdos que a escola tem o dever de ensinar (conceituais, factuais, procedimentais e atitudinais), as diferenças conceituais entre “habilidades” e “competências”, e os níveis taxionômicos inerentes a determinadas operações mentais.

“Trocando em miúdos”, aos analisar os tipos de “trabalhos” realizados pelos neurônios no desempenho de determinadas funções, Bloom os classificou e escalonou em níveis ascendentes de complexidade, da seguinte forma: (Re) Conhecimento, Compreensão, Aplicação, Análise, Síntese e Avaliação/Julgamento.

Para explicar cada nível desses, tomemos como exemplos duas palavras: “homens” e “mulheres” Quando meus neurônios conseguem distinguir esses dois seres, eles não estão morrendo de trabalhar; estão apenas se recordando de informações e características armazenadas em alguma área do cérebro, por isso Bloom diria que eles estão funcionando no primeiro nível taxionômico, o de (Re) Conhecimento.

Se, por outro lado, “Tico e Teco” conseguem compreender de que são constituídos e para que servem “homem” e “mulher”, eles estão atuando no segundo nível, o de Compreensão. Quando os neurônios conseguem utilizar informações acerca desses dois seres para realizarem alguma tarefa, dizemos que eles estão atuando em nível de Aplicação.

O nível seguinte mais elevado é o de Análise e pode se manifestar se, nessa linha de raciocínio, tivermos de decidir, no meio de uma multidão, quais “homens” e “mulheres” farão parte de nosso seleto grupo de amigos. Para fazermos isso, teremos de analisar, minuciosamente, diversas variáveis do “todo”, eis por que dizemos que nossos miolos estão funcionando nesse nível análogo. Após essa etapa, nossos neurônios concluem quais “homens” e “mulheres” irão morar em nossos corações, e somos capazes de declarar isso com poucas palavras, pois “Tico e Teco” terão acabado de fazer a operação de Síntese.

O nível mais complexo de operação mental postulado por Bloom, conforme acima exposto, é o de Avaliação ou Julgamento. Atingimos esse nível quando somos capazes de ter opiniões (teses) acerca de “homens” e “mulheres” e conseguimos articular sólidos argumentos para defendê-las.

Nesse ponto, eu retomo a introdução deste texto para reforçar a minha “tese” inicial: quem está na base da pirâmide social, provavelmente, tem neurônios que mal sabem funcionar nos três primeiros níveis da taxionomia postulada por Bloom: (Re) Conhecimento, Compreensão e Aplicação.

Qual é o problema disso? Ora, nenhum para quem precisa da massa que pensa pouco e isso ganha; mas é enorme para o desenvolvimento da humanidade, pois a desigualdade social aumenta na mesma proporção que os “inteligentes” ascendem na pirâmide e se esquecem de quem está na base.

Faço a minha parte, ensinando meus alunos a pensarem com a responsabilidade de saberem fazer isso com os inocentes que lhes forem confiados no futuro. Não lhes é permitido, jamais, fazer como a “professora” de alguém que, para minha estupefação e de outros caminhantes matutinos da Linha Verde, algumas vezes por semana, roda o entorno da referido local com um carro pipa molhando diretamente....a lagoa!

Se fosse para molhar a vegetação do entorno, o jato d’água não deveria estar regulado para cair diretamente dentro da lagoa; se esta estivesse seca, eu até entenderia o esforço do motorista ao tentar enchê-la.... Como nada faz sentido, fico pensando no Bloom e copiando Leonel Ximenes, jornalista responsável pela coluna Victor Hugo do jornal A Gazeta, ES; faço sua galhofeira pergunta: “Pode isso, Arnaldo?”

NORMA ASTRÉA
Enviado por NORMA ASTRÉA em 27/11/2013
Reeditado em 27/11/2013
Código do texto: T4588738
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