Sinais


 
Se a vida estiver muito amarga, dá uma rebolada.
Às vezes o
açúcar tá no fundo!

(Autor Desconhecido)

 
Voltando ao tênis hoje, depois de meses parada por causa de uma lesão, sinto-me desanimada com a má qualidade do meu jogo. Aliás, ando meio frustrada com a dificuldade de fazer as coisas acontecerem. Queria treinar mais, escrever mais, ler mais, estudar mais, aprender a tocar violão... Mas, e tempo? Queria adotar mais bichos, publicar mais livros... Mas, e grana?
E já que cheguei ao muro das lamentações, abandono a órbita do meu umbigo, desiludida ao perceber que sua periferia não é muito melhor. Queria um mundo mais justo, onde todos, humanos ou não, fossem tratados com respeito e dignidade, onde as pessoas do bem vivessem felizes e as outras, fossem punidas. Mas o que vemos é justamente o contrário, gentes e bichos sofrendo toda a sorte de dissabores devido ao egoísmo e à ganância de quem ignora a máxima de que somos todos irmãos, só gozando as benesses de ser filhos de Deus.
Seguia assim, pessimista, quando vi o sorriso. Um sorriso inesperado e contagiante, afastando essas sombras que nublavam minha visão. Voltei ao tênis e isso me faz muito bem. É esse clima de saúde e amizade ou só efeito da endorfina? Não importa: vicia.
Bastou aquele sorriso para me mostrar que a vida é bela mesmo com seus altos e baixos. O mundo também pode ser e ando de cá fazendo a minha parte para isso.
Ânimo recuperado, caminho na direção daquele sorriso. Não. Não era o sorriso de um Cauã Reymond. Também não era uma criança, cujos sorrisos costumam ser mesmo inebriantes. O sorriso não era nem mesmo um sorriso. Era apenas um smile, uma daquelas carinhas amarelas sorridentes, formado
numa das inúmeras bolinhas de tênis espalhadas, pela combinação da cola em curva com os pontinhos feitos pelo professor para marcá-la como sua. Apanhei-a do chão, a ilusão de ótica desfeita. A leveza do espírito, não.
Às vezes, basta pouco para que as coisas se desenhem mais alegres à nossa volta. No meu caso, foi um sorriso-não-sorriso. Para você, talvez seja seu doce favorito, uma música querida, um alô...
São sinais que vêm dar uma renovada nos ânimos da gente.
Resta estarmos atentos para os saber aproveitar!

 
Crônica publicada na edição de 29/11/2013 do jornal Alô Brasília, reeditada do texto O Tempo Voa, publicado neste Recanto das Letras em 06/01/2010.