ESTRANHAMENTO

Familiaridade ou estranhamento no mundo universitario

A ansiedade e expectativa de realizar pela primeira vez uma prova acadêmica, da qual só ouvia falar através do radio, televisão, ou nas poucas oportunidades de se conversar com um acadêmico experiente ou mesmo em família, algo totalmente novo e que não esteve nunca incluído em minha experiência de vida. Penso que os meus professores, todos altamente gabaritados no exercício da profissão, são intelectualizados naturalmente, ou seja, o seu pensar, o seu escrever, o seu entendimento ao ler já é naturalmente intelectual. Quando ele prepara uma prova para mim, até se preocupa em não fazer algo que tenha um alto grau de dificuldades, mas o seu mínimo grau já é para mim um calouro, fora da faixa etária universitária altíssima. Os primeiro quatro meses em meu primeiro período eu fui engatinhando neste mundo novo tal qual um bebe, até dar os primeiros passos mais firmes, nesta dinâmica de entendimento, mas não conseguia na maioria das vezes raciocinar de forma adequada algo que ainda hoje me é rotineiro. Não sei até que ponto o fato de não ter sido aluno em todo o tempo de minha vida influenciou em meu aprendizado, não sei quanto tempo gastarei para educar meu intelecto, não sei quanto tempo gastarei para compreender com facilidade a literatura clássica mas sei de forma absoluta que não irei parar nesta caminhada que é hoje tudo em minha vida envolvendo ai meus filhos, familiares e amigos; tenho permanecido firme procurando sempre encontrar meios de driblar esta pequena barreira como se estivesse num campo de futebol pronto para a cobrança de um pênalti no último lance e minuto de jogo, responsável por ultrapassar toda a tensão e dar a vitória ao meu time. Ao realizar a leitura do livro de Lévi-Strauss, Tristes Trópicos e me encantei ao ver que para falar apenas daquilo que num determinado instante de sua caminhada exerceu forte atração em seu senso de observação que era o por do sol estando ele em alto mar. Nesta primeira edição gastaram-se sete paginas em sua narrativa, e na medida em que eu já consigo compreender os termos literários da época e que muito me encantam mais me apaixono pela leitura. Muitos outros se seguiram, nesta jornada teórica de pertencimento no mundo das Ciências Sociais tais como Durkheim, Hobes, Maquiavel, Montesquieu, Goffman, Bobbio, Marx, Geertz, Caio Prado Jr, Celso Furtado, Jessé de Souza, o grande Milton Santos e Marshall onde tudo que é sólido desmancha no ar; e este desmanchar vai transformando a minha vida, me colocando em um patamar de entendimento muito superior a tudo que aprendi em sessenta anos de existência. Hoje estou encerrando o meu sexto período, com muito louvor, realizado por ter conseguido média oitenta em quase todas as disciplinas. A jornada é longa, o pensamento vagueia pelo futuro, sabendo que as teorias virão com a mesma intensidade sempre e as discussões trarão alguns alunos a favor, outros contra e alunos que se emudecem diante daqueles ideais e assim vamos interiorizando saberes, gerando nossos textos acadêmicos, nossas teses, envolvidos com nossos problemas metodológicos, sendo sabatinados, sendo avaliados pelos nossos professores, discutindo estes métodos avaliativos que nos são impostos e sempre buscando superar a nossa própria capacidade de entendimento. Assim tem sido o meu viver sempre em busca de me familiarizar com este atual estranhamento que é o mundo acadêmico.

ederbrasil
Enviado por ederbrasil em 29/11/2013
Reeditado em 27/12/2013
Código do texto: T4591670
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