Essa é para você

Essa é para você. Demore seu olhar, pause seu relatório, fique boquiaberto, largando o café quente na sua mesa. Perca as contas, esqueça as planilhas. Sim, mas é para você. É o mínimo que posso fazer para me redimir do meu deslize emocional de te reverter em palavras tão duras, quando você é de uma leveza incomparável. E não apenas para me desculpar, não é só um perdão que eu preciso colher aqui.

Ou você entende e guarda, ou depois disso, sumirá de vez. Será nosso segredo.

Nós dois sabemos falar de amor com o pé nas costas. Você, mais solidário, mais estético. Eu, mais rasgada e selvagem. Mas no final, a soma sempre bate: tudo termina no mesmo significado. Você, colorindo palavras e adornando com arabescos saudosos, eu berrando pro mundo minha saudade de você empurrada goela abaixo. Você, dando voltas. Eu, sendo transparente até às vísceras.

Mas a gente se entende. E vou além: se essa distância não nos separasse tanto, dessa forma tão cruel, teríamos tardes de sábado regadas a muitas gargalhadas, conversa, sendo ela boba ou papo cabeça e muitas gostosuras, pois a natureza foi generosa comigo e me deu uma mão boa para cozinha. De magro, só ia ficar o fio do seu cabelo e riríamos ainda mais. Seria alegre, aposto que sim.

Talvez eu sonhe demais com momentos assim, mas acredito neles e, se penso assim hoje, foi graças à sua alma redentora, que me tirou da insensibilidade e me mostrou o céu. Antes de conhecer você, eu não sabia falar de amor e quando o fazia, era de uma forma violenta, porque era assim que a vida me ensinou a ver. E você, mesmo mastigando uma solidão reflexiva, me ajudou a perceber que há um leque de possibilidades felizes quando estamos dispostos a abrir nossos corações. E você reinaugurou o meu.

E se antes eu queria rabiscar palavras para informar, hoje quero que ela toquem a alma dos meus leitores. Passei a amar poesia, que antes era tediosa e elitista ao meu ver. O que era estranho, aquele rosto desconhecido, passou a ser íntimo. Então, admirei flor, amanhecer, chuva na janela e paisagem bonita. Passei a amar a vida de uma forma única, que só acontece quando encontramos alguém capaz de nos mostrar isso.

Não temos os mesmos gostos, não moramos no mesmo lugar, não temos o mesmo sotaque, somos água e óleo, contrários de nós mesmos, mas temos a empatia de nos encontrar. Em qualquer lugar desse mundo, em sonhos, em músicas compartilhadas, em sorrisos arrancados de longe, em perfumes, sabores e apelidos.

E, acima de tudo: nos amamos. Como amigos, como amores, como seres que habitam a mesma existência e procuram uma outra alma, como duas pessoas que carregam um coração sadio e brilho no olhar. Dois incompreendidos, que se sentem sozinhos, bobos, dramáticos, que choram e se emocionam com seus escritores preferidos, que perdem a cabeça, o humor, a paciência, mesmo sabendo que seu signo não combina com o meu: você é água, eu sou terra.

E hoje, naquela estrela que visita a pontinha da minha janela todas as noites, está o seu nome, que é incomum, assim como o meu. E nela, está o meu abraço para você, o que penso e não escrevo, todo o meu afeto, como aquela amiga que fica triste com a sua ausência, como aquela companheira de redescobrimento.

As coisas mais lindas que já me fizeram na vida vieram de você.

E a única forma de te agradecer é com meu amor.

ARYANE SILVA
Enviado por ARYANE SILVA em 04/12/2013
Código do texto: T4598980
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