EU E A MINHA SANTA PACIÊNCIA

Pelo menos duas fontes, a REUTERS e a EFE publicaram a notícia que eu li dia 20 no Uol – Últimas Notícias e que me deixaram com a impressão de eu estar vivendo num mundo surreal, ainda que pese todo o horror do cotidiano produzido pela loucura dos atuais governantes das principais nações do planeta e de outras nem tão destacadas assim, que nos fazem pensar que a insanidade é a regra e não a exceção na condução da vida humana sobre a Terra.

Vejam as manchetes ( EFE ): “Vaticano abole o limbo e abre as portas do paraíso aos bebês”; (REUTERS): “ Após séculos, a Igreja Católica enterra o conceito de limbo”. Destaco alguns trechos das referidas manchetes, sublinhando algumas idéias:

“CIDADE DO VATICANO (EFE) - Os teólogos do Vaticano estão convencidos, após vários meses de reflexão, que o limbo não existe e que as criancinhas mortas sem o sacramento do batismo vão diretamente para o paraíso. // A hipótese da existência do limbo, relacionada à concepção Cristã da salvação, foi transmitida pelo teólogo Santo Agostinho, morto no ano de 430”.

O texto da Reuters é mais rico em detalhes que nos mostram como pensam dos “donos da salvação” e como funcionam os bastidores dos “procuradores de Deus” na Terra:

“Segundo a reportagem do serviço de notícias, o texto, de 41 páginas, diz que os teólogos que assessoravam o papa na questão concluíram que, como Deus é piedoso, ele quer que todos os seres humanos sejam salvos".

O texto diz que a graça tem preferência sobre o pecado, e a exclusão de bebês inocentes do céu não parecia refletir o amor especial que Cristo tinha pelas crianças, afirmou o Serviço de Notícias Católico, de propriedade da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos.

O limbo, que vem da palavra em latim para "borda", "limite", era considerado por teólogos medievais um estado, ou lugar, reservado aos mortos não-batizados, incluindo gente de bem que havia vivido antes da chegada de Cristo.

"Nossa conclusão é que os vários fatores que analisamos, fornecem uma base teológica e litúrgica séria para esperar que os bebês não-batizados que morrerem serão salvos", diz o documento”.

Os ensinamentos da Igreja Católica dizem que o batismo elimina o pecado original, que marcou todas as almas com a expulsão de Adão e Eva do Paraíso.

O catecismo oficial da Igreja, lançado em 1992 depois de décadas de elaboração, já não usava o conceito de limbo.

Na Divina Comédia, Dante Alighieri colocou os pagãos virtuosos e os grandes filósofos clássicos, como Platão e Sócrates, no limbo.”

-.-.-

- Aloô!

Estou sem palavras. É ou não é algo surreal? Imaginem quantas mamães e vovozinhas morreram durante esses séculos todos acreditando que os seus bebezinhos mortos antes do batismo estivessem num lugar de ninguém à mercê do nada, penso até que algumas possam ter enlouquecido de tanto pensar nessa possibilidade, que para a época era uma verdade, ou melhor, até sexta-feira passada, se é que já homologaram a nova descoberta, senão, é melhor que nenhuma criancinha de pais Católicos e sem o batismo Católico morra por enquanto.

Ainda bem que pelo menos uns dois terços da humanidade não estão sujeitas a essas Leis e vivem e morrem sem se preocuparem com isso.

Há três anos atrás eu trabalhava numa cidade pequena, na qual eu permanecia durante até quatro dias consecutivos sem a companhia da minha família naquela hora de chegar em casa, tomar um banho, jantar e ficarmos juntos até o sono chegar, então, eu e um amigo que tinha a mesma rotina que eu, fazíamos longas caminhadas pelas ruas recém asfaltadas e conversávamos sobre os mais variados temas. Como ele é uma pessoa de muitas leituras e grande capacidade crítica, às vezes, entravamos no mundo dos “procuradores de Deus”, como costumávamos chamar todos os homens que se põe à frente da humanidade com o intuito de revelar-lhes a “verdade e os caminhos da salvação”, usando o artifício da fé, alguns até convencem seus comandados a atarem uma bomba na barriga e detonarem o outro humano que julgam “menos merecedor do paraíso”. Ainda bem que esse pensamento não atinge toda a humanidade, somente aqueles ligados às religiões de cunho messiânico, curiosamente sob o mesmo prisma daquela história que aconteceu com o descendente do Rei Davi e que, também curiosamente, os donos da história, os Judeus, pouco se manifestam a respeito; isso desde o tempo em que um tal de Paulo de Tarso pintou e bordou sobre a referida história, descambando nisso que vemos hoje e naquilo que muitos não querem que vejamos: a Santa Inquisição e os seus crimes sangrentos contra a parte da humanidade que viveu sob o seu jugo.

Eu, que nunca havia me interessado pelo tema, depois de ouvir algumas das suas ponderações sobre o assunto fui estudar esse período da história da humanidade, daquela parte da humanidade sujeita às Leis do Catolicismo e fiquei horrorizado com o que vi e que é pouco, segundo algumas fontes que dizem que a verdadeira face do horror ainda está guardada dos olhos da humanidade em documentos na Biblioteca do Vaticano. Em muitos momentos senti náuseas e repulsa por saber que somos da mesma natureza. Hoje sinto isso em relação aos maus políticos que tem nos premiado com o Brasil da fome, da corrupção e da violência que vemos acontecer todos os dias, mas, isso é outra história.

Parece-me ponto pacífico, salvo alguma guinada com o objetivo de manter o poder sobre os que aceitam o jugo de alguns pensadores, que muita história que está escondida da humanidade, assim como, a que foi maquiada e recebeu as tintas da fantasia e acabaram criaram essa massa de gente dependente de milagres, passem a receber aos poucos um pouco de luz e ares de sanidade.

Naquele tempo achei graça e até brincamos com a idéia de pedirmos a excomunhão, o que seria o equivalente a pedirmos o desligamento oficial da instituição romana, desligando-nos de permanecermos na mesma esfera mental de tantos crimes, mas, ele desencorajou-me a fazer isso porque pensava que muitas pessoas que ainda vivem ligada à religião romana, por força dos atos dos seus pais, pudessem fazer o mesmo gerando grande celeuma e quem sabe até perseguição por parte daqueles que querem se manter no status de procuradores de Deus na Terra sem que ninguém lhes conteste a legitimidade do seu mandato.

A idéia do amigo agora começa a fazer sentido e volta à minha mente, a de aproveitar a presença no Brasil do atual chefe da organização romana e pedir-lhe o desligamento oficial de tal entidade, assim, livrando a minha mente de permanecer ligada ao campo mental daqueles homens que depõem contra a dignidade do ser humano por causa dos crimes que a instituição carrega no seu currículo. Porém, a liberdade é intrínseca ao espírito e cabe a ele desligar-se de fato do que tanto mal traz à humanidade, seja em que campo for, e penso que não é para tanto, seria muito chocante para os que vivem com a mente presa àqueles conceitos, dogmas e leis, mas, que eu penso que está na hora de pedirmos justiça para aqueles que foram massacrados pelas Leis hediondas da Santa Inquisição e restabelecer-lhes a dignidade de seres humanos com direito à vida e a liberdade de pensamento como é da natureza de todo o ser humano que nasce na face da Terra, da mesma forma que foram capazes de pedir perdão e voltarem atrás no caso de alguns humanos ilustres cujo tempo mostrou-lhes que seria insustentável manterem-se na posição anterior sem que se sentissem nus diante da humanidade esclarecida. Lembra-se do Galileu?

Mas, voltando à história das criancinhas católicas que agora podem morrem na certeza que irão direto ao paraíso, penso que é hora dos católicos se perguntarem se há justiça nisso: por que alguns vão direto ao paraíso, bastando morrer enquanto pequenos, e outros têm que se danar na vida e ao menor deslize param nas profundezas do inferno? O que será que eles inventarão daqui para frente para manterem o império que fundaram em cima das suas leis e dogmas que parece que até Deus duvida delas?

Chico Steffanello
Enviado por Chico Steffanello em 22/04/2007
Código do texto: T459991
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