Presente da Floresta

Estava eu resmungando, reclamando com a floresta, encostado no batente da porta da cozinha, nos fundos da casa, de frente para o verde, quando, de repente,

surgiu à minha frente, uma pequenina criatura alada, toda negra, efusiva e de olhinhos inesquecíveis. Muito, muito brilhantes e expressivos. Era um beija-flor! Parou na altura de meus olhos, a uns 20 cm de distância: bem pertinho mesmo.

Foi um choque, mas, prontamente, entendi o recado. Não há mais remédio: meu lugar é junto ao encantado. Em qualquer outra situação, eu perco, sofro. Muito provavelmente, isto seja fruto de meu isolamento, cada vez mais significativo. Perdi totalmente o jogo de cintura para lidar com a sociedade. Não só de tanto apanhar e ser rejeitado, mas, principalmente, por estar totalmente desiludido de seus fajutos propósitos.

Para mim, a tal vida civilizada capitalista, ou não, é uma fábrica de loucos, de frustrados, de neuróticos. Seres que podem se tornar violentos a qualquer momento. Seres que vivem por viver. Não têm a menor noção do que estão fazendo aqui. Isto me está claro, pois se tivessem não se prestariam aos papéis medonhos que vêm se prestando, desde sempre. Seres iludidos que iludem!

Penso estar bem próximo de, simplesmente, não suportar mais a pantomima. Interajo cada vez menos. Desgasto-me cada vez mais. Não consigo enxergar a situação alheia sem me comover, sem me doer. O pior, com pouco, ou quase nada, podendo fazer... A não ser me aprofundar mais ainda, no exercício do redentor ofício. O lirismo é a minha forma de comunicação com a humanidade. Pelo menos, a única que surte algum resultado. A única que não me deixa a impressão de total e perigosa, radical, inadequação.

É pela poesia que recebo aquela quota mínima de carinho, sem a qual é impossível sobreviver nos domínios do sensível.

Concluindo: o belíssimo beija-flor, com aqueles olhinhos mágicos, fez-me lembrar não só de meu lugar, como também, a necessidade de permanecer neste lugar, poetando, escrevendo, cantando, enfim, interpretando o que não pode mais permanecer à margem: o encantado!

Saiu meu quinto livro: "Lúcido"

90 crônicas datadas e 12 poesias

214 páginas!

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Claudio Poeta
Enviado por Claudio Poeta em 06/12/2013
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