Retrospectiva adolescente

Seja bem vindo dezembro! Surpreenda-me (por favor)! Zara acaba de escrever em seu diário, desejando que este último mês do ano lhe trouxesse coisas boas. Decidiu folhear as páginas e no turismo pelos meses passados concluiu que nada de muito emocionante havia acontecido. Em janeiro viu as férias que por falta de dinheiro passou em casa, o lugar mais longe que pôde ir foi o sítio dos seus tios. Em fevereiro riu com as anotações do carnaval e percebeu que a única coisa que ganhou foi despesa para tratar o cabelo danificado pela mistura de farinha e spray. Em março era uma animação com a volta as aulas, em abril já estava implorando: férias, por favor! Ainda havia uma contagem enorme de pequenas mentiras e pegadinhas com os colegas. Em Maio achou triste por lembrar-se de sua mãe que estava morando em outra cidade. O cartãozinho decorado na escola estava dobrado entre os dias 10 e 11. Passou rápido viu os festejos juninos e sorriu com um comentário que escreveu em baixo do papel do sonho de valsa que havia colado: “presente dele tem que guardar”. Ele, era um colega da escola, havia ganhado este chocolate num amigo doce que a professora de artes tinha feito. Mesmo que tenha sido só uma coincidência, garimpada por ela e as amigas em uma troca 007 de papéis, ganhar aquele sonho de valsa, lhe parecia ganhar uma estrela do céu. Isso era um bônus já que não conseguiu dançar com ele a quadrilha, e quase morreu do coração ao vê-lo fazer o noivo com outra. Nem as simpatias ao redor das fogueiras deram certo, por isso ela tinha escrito em uma das noites: - Santo Antônio nem pra me dá uma forçinha. O mês seguinte era uma mistura preguiçosa de “Dia Bom”, “Bom Dia” ou então colagens desconectadas. Setembro tinha uma foto da bandeira do Brasil que ela orgulhosamente pôs rodeada de “viva a independência”. Outubro, que lindo!! veio o dia das crianças e havia apenas uma anotação chorosa que incluía um “aff, esqueceram de me dar presente” e duas linhas depois uma conclusão adolescente: já sou grande!! Novembro parecia um mês sinistro e escreveu tudo com caneta preta, imaginava que começar lembrando dos mortos lhes assustava, ela passou rápido a página quando leu: “chato indo ao cemitério”. Nada... nenhum mês lhe trouxe emoções, desanimada Zara deu de ombros, soltou um sorriso no canto da boca e pensou então que em dezembro se as coisas não mudassem... O mínimo que podia fazer era parar de escrever diários!

Michelle Morais
Enviado por Michelle Morais em 07/12/2013
Reeditado em 21/04/2014
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