Nunca Morrerei

Veredas podem desaguar em amplos horizontes. Afastados os tormentórios do caminho, a algum lugar se chega, alguns deles para onde se possa inclinar nossa admiração.

A morte não é diferente do fim de qualquer viagem: vem após longas caminhadas que se confundem com o tempo ou nos breves passos imaturos e inocentes da infância de um corpo que, querendo vingar-se, morre. Em comum entre essas duas viagens, há dor deixada em nós que ficamos catando os horizontes enevoados dos caminhos que buscamos a cada dia de nossas vidas. O nosso espírito está sempre à procura de uma paz afetuosa, nem sempre encontrada.

Não posso acreditar que um Deus infinitamente belo e poderoso possa destruir com a morte esse magnífico presente armado na eternidade, chamado vida, imagem do que mais denso há dentro de sua misericórdia. Só assim agiria um deus sem sobriedade.

É preciso termos fé na vida renovada no amor de Deus. Um homem é um ser da criação divina, e não um animal que vive para alimentar a certeza de uma morte.

O espírito é um cofre cheio dos sagrados segredos de Deus. Prende-se neste a luz do pulsar da esperança na eterna existência do homem. A morte é uma esponja complexa e fria, desmaculo o que não pode jamais passar deste corpo para outro e hesitar novas sintonias da existência. É peça necessária ao nosso evoluir.

O homem administra seu próprio corpo. Oferece-lhe o prazer e a doença. Deixa-o senil ou mata-o depressa. No mundo estão as mazelas que o homem constrói lado a lado com as coisas preparadas por Deus. Suas distâncias são os nossos livres arbítrios. Quem morre, cedo ou tarde, o faz por sua própria vontade, levando-se em conta que somos o produto do meio. Quando envenenamos o planeta, também o fazemos a nós mesmos. Do nosso lado, Deus olha paciente, esperando que o homem encontre a morte e entregue sua alma a ele.

Quando a alma cai nos braços de Deus, a morte morre, a esperança renasce e não haverá mais veredas. Uma certa luz será a nossa estrela. Não se sentirá mais a dor do corpo. E a do espírito? Está nos desígnios de Deus. Só estando lá para desvendar esses segredos muito bem guardados pelos anjos do paraíso.

Não só com a obra se vai ao Pai, mas com a fé sem limites em Jesus Cristo, anjo santo da anunciação do fortíssimo compromisso que Deus estabeleceu com a humanidade. Minha vida passará a outra ou outras, tantas vezes queira Deus que assim o faça. Em minha relação com esse Deus fantástico, não me sobra qualquer espaço onde possa pôr o abandono de minha consciência. Nenhum desespero pode ceifar minha esperança. Assim quero viver, na paciente e afetuosa espera de quem crê na absoluta força do amor daquele que criou sua origem e é pai de si próprio, como único Deus que é e que vive e reina.

Ajunte-se às minhas esperanças, caro leitor. Deixe que o nosso paraíso esteja sempre mais próximo dos nossos corações. Nossa relação com Deus tem de ser prazerosa e firme, como a força que segura no céu, não só a Lua, mas a transcendência de nossa fé na vida que veio dele.