ALEGRIA E DOR

Na tarde de 11 de dezembro de 2013

Vejo as fotos tiradas ontem... olho a expressão dos teus olhos...

Olho minha foto do perfil no Recanto, foto de quase duas décadas e meia. Na foto do perfil estou séria, uma jovem e bela mulher, séria, algo melancólica. Olho as fotos de mim, as fotos tiradas ontem. Como é possível que se trate da mesma pessoa? Estou rindo nas fotos de ontem, as melancolias bem guardadas na alma, ocultas por trás do riso, riso a revelar alegria real, autêntica - a gente às vezes é duas, simultâneas, uma toma a frente e surge na foto, que a vida é sempre contraditória e contradito, sempre. Olho o corpo da mulher de hoje. Deus, como se pode mudar tanto?

Olho a expressão dos teus olhos... Deus, quanta nostalgia! Como olhas para longe, talvez a olhar-nos como éramos há quase 25 anos. Que funda saudade e melancolia no teu olhar! Eu rindo, com a melancolia provisoriamente calada, por dentro.

Pergunto-me se alguém (além de nós dois) dos tantos presentes ali conosco foi, é capaz de ver, ou de pressentir algo das duas de mim, a do sorriso neste corpo da mulher de agora e a de dentro, com a dor de quase 25 anos de renúncias, das perdas de cada um dos seus sonhos mais caros. O abismo entre ambas, no mesmo ser. Esta mulher de agora, que precisou transmutar o próprio sentimento para poder amar a ti ao mesmo tempo que amar a todos os seres do teu mundo.

E tu, teu olhar que sabe de tudo, que sabe de nós, revelando em sua tão profunda melancolia, a saudade do que fomos, a saudade de tudo, e também as visões do presente, a visão de mim hoje, eu, como uma espécie de mãe, o papel, afinal, que me coube, para contigo, para com todos.

A mulher que te fui; a mãe que só me coube e me cabe ser. O conforto é saber que para se ser mãe, para se desistir da mulher, é preciso se ser capaz de amar, de amar para além de tudo, para além de todo e de qualquer desejo de posse -desejos de posse que há muito não me cabem mais; amar, simplesmente. Sonhar com a duração da paz. Sonhar com o bem para nós, para todos.

Superar a melancolia e a dor causadas pela comparação com as duas fotos de mim, separadas, uma da outra, por quase duas décadas e meia. Superar a dor causada pela visão da fundíssima melancolia do teu olhar e do teu rosto, amor dos meus vinte e cinco séculos, amor de muitos de todos os meus tempos, amor meu ainda nesta envelhescência cruel bem como benfazeja, a seu modo - e tome paradoxo! Amor do meu sempre enlevo, amor da minha sempre mais-que-completa alegria, amor da minha sempre mais-que-completa dor.