Cadê as luzes do Natal?

Há anos, quando éramos crianças, tudo tinha um brilho especial, não só por nossos olhos serem de crianças, mas pelas próprias circunstâncias. As coisas eram diferentes e as pessoas eram mais amáveis, menos interessadas no valor das coisas que no valor das pessoas e dos relacionamentos.

Gastávamos tempo em montar árvores de Natal, trabalho sempre feito à noite, depois que a maioria da família já tinha chegado do trabalho. Então participávamos alegremente da verdadeira cerimônia que era a montagem das bolinhas coloridas de vidro finíssimo, que muitas vezes quebravam durante a brincadeira e lamentávamos cada quebra, pois seria uma bolinha a menos, já que não tínhamos mesmo muito dinheiro e aquelas coisas não eram assim tão baratas.

Tinha também aquelas gambiarras de luzinhas que montávamos na fachada da casa, em torno das janelas, nos primeiros dias de dezembro e só eram tiradas no dia seis de janeiro. Ficavam ali, piscando, verdes, azuis, vermelhas. Sempre queimavam algumas e vinha no kit umas de reserva.

Quase todas as casas da rua, em todas as ruas de todos os bairros da cidade. Os ricos e os pobres se igualavam nessa época, pelo menos no quesito decoração de fachada. É claro que a nossa era bem simples, como as de muita gente como nós. Mas era algo mágico, que envolvia as pessoas numa aura de alegria, de uma doçura fora do comum. Todos ficavam mais mansos, mais flexíveis, como se tocados por algo sobrenatural. Era assim o encanto dos dias que antecediam a chegada das festas de fim de ano.

Hoje os noticiários trazem desgraças, desastres, violência e mais violência. Nada de luzinhas piscando, nem musiquinha de harpa. Só vemos nos shoppings uns velhos gordos idiotas com uma barba branca ridícula cobrando para tirar fotos com as crianças.

Hoje, já pela metade de dezembro, olho pela janela e vejo a metade do meu bairro, mas não vejo mais que duas ou três casas iluminadas com um pisca-pisca modesto e sem graça. Não se renova mais a pintura das paredes, nem se substituem móveis, nem se compram brinquedos antecipadamente, para ficarem escondidos até o dia 24, sob deliciosa tensão da ansiedade dos pais e das crianças.

Cadê as luzes do Natal? Onde foram parar os enfeites, as guirlandas, os presentes baratos e os garrafões de vinho tinto de mesa suave para acompanhar o peru ou o lombo recheado?

Assim como desapareceu um dia o sentido original do natal como comemoração do nascimento do Ícone do cristianismo, também já perdeu o sentido a confraternização, a reunião de família e tudo mais que remetia àquelas bucólicas e deliciosas noites dos dezembros que ficaram na memória, mas que não mais existem. Não há mais luzes de natal.

O Natal que conhecemos não existirá mais em poucos anos.

Weverton Duarte Araújo
Enviado por Weverton Duarte Araújo em 12/12/2013
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