Amor renovado

Estive no Nordeste, recentemente, em visita a parentes e amigos. Periodicamente, em intervalo máximo de dois anos, viajo a terrinha para matar a saudade. Ali, encontro pessoas de minha sincera estima: cunhados, sobrinhos e os bons amigos que por lá deixei, quando me dispus a fixar residência em Brasília, a capital de todos os brasileiros, mas, também, celeiro de políticos corruptos, que nos desagradam pelo comportamento malsão, hereditário ou desenvolvido pelo convívio desonesto com seus pares.

As excelências que hoje povoam Brasília são oriundas de todos os estados da federação. A maioria trouxe consigo o vírus da corrupção que contamina boa parcela da sociedade. Esses danosos personagens,

amparados por uma Justiça morosa e cega, mais cega do que lenta, têm dado péssimo exemplo a nossa juventude, com suas intermináveis falcatruas. Embora vivam à margem da lei, a Justiça não os alcança. Diariamente, a mídia divulga casos de homens públicos com suas vidas enxovalhadas pela desonestidade. Alguns foram presos. Pouquíssimos, por sinal. Os que transferiram residência para as penitenciárias não contam com a companhia do chefe, o grande arquiteto da monumental roubalheira, denominada “mensalão”.

Desculpe o leitor esse trecho político que inseri nesta narrativa. Infelizmente, não desprezo a oportunidade de comentar as mazelas que assolam o povo honesto desse Brasil de todos nós, não apenas desses usurpadores petistas, que o têm exclusivamente como seu. Neste instante, meu desiderato é falar-lhe dos poucos dias passados no Ceará, Paraíba e Pernambuco.

Estive, inicialmente, na terra de Iracema. Na oportunidade, revi lugares atrativos e abusei das comidas típicas. O Baião de dois (mistura de arroz com feijão), a carne de sol, o alfinim (saboroso doce feito do mel da cana de açúcar, também conhecido como puxa-puxa), a rapadura e o picolé da castanha de caju, da marca Pardal, contribuíram para aguçar o meu insaciável apetite. Mas, do que mais abusei foi da buchada, feita das vísceras, do fígado e do coração do carneiro que comprei na cidade de Orós, no interior cearense, berço natal de minha estimada consorte. Comprei-o e mandei prepará-lo para meu deleite gastronômico e de meus cunhados e familiares. A exótica carne ovina é uma delícia!

Em Orós, foi erguida a maior bacia hidrográfica da América do Sul, na época (1958-1961), pelo engenheiro paraibano, Dr. Anastácio Honório Maia. A obra teve grande repercussão em 1960, quando, com dezenove metros de altura, a parede da barragem foi totalmente lavada e levada pelas águas impetuosas do rio Jaguaribe, o maior rio seco do mundo. As constantes e copiosas chuvas fizeram com que o caudaloso rio exorbitasse de sua capacidade. A parede em construção não resistiu ao ímpeto das águas. Embora não tenha sido rompida em nenhum momento, foi lavada do coroamento à base.

O açude Orós foi reconstruído por mais de dois mil trabalhadores, inclusive por este modesto cronista. A jornada de trabalho era de vinte e quatro horas diárias, em três turnos de oito, até a inauguração, pelo presidente Juscelino Kubistchek, em 1961. Com capacidade para armazenar dois bilhões de metros cúbicos de água, é um colosso que, hoje, infelizmente, encontra-se limitado pela seca que assola o Ceará e todo o Nordeste. Apesar de a bacia hidrográfica encontrar-se reduzida, o açude alimenta o leito do rio Jaguaribe por todo o vale, tornando-o perene por dezenas de quilômetros, através da abertura de gigantesca válvula, com vasão de trinta e seis metros cúbicos de água por segundo, amenizando o sofrimento do sertanejo e de seus poucos animais.

Estivemos em Campina Grande e Areia, na Paraíba. Minha esposa e os demais membros da turma de Medicina, que concluíra o curso em 1978, celebraram seus trinta e cinco anos de formados. Foram dois dias festivos e de intensa confraternização. Na oportunidade, reviram colegas, trocaram ideias, rememoraram fatos e fofocas e planejaram o futuro. Cinco colegas do grupo já haviam partido para a Eternidade. Muitos curtiam a merecida aposentadoria, enquanto outros planejavam fazê-lo antes que o cansaço diuturno, como abnegados esculápios, os tornasse incapazes de aproveitar o tempo como saudáveis turistas.

De Areia, viajamos a João Pessoa, na Paraíba. Depois, fomos a Recife, a Veneza Brasileira. Aborreceu-me o trânsito intenso. Todavia, gostei imensamente de ver o chamado Marco Zero, região do Recife Antigo, renovando seus velhos edifícios, alargando espaços, restaurando monumentos e símbolos da cidade antiga. Os velhos armazéns alfandegários estão sendo reformados. Ali, serão instalados novos empreendimentos comerciais e turísticos.

Valeu a pena, rever o Recife. A restauração de seus velhos prédios poderia servir de inspiração aos governantes de outros estados brasileiros. Como gostaria de ver renovadas as edificações centenárias da capital maranhense e de outras cidades tupiniquins! A medida, aproveitando o momento da Copa do Mundo, poderia ser aplicada refazendo-se as precárias e deterioradas calçadas de nossas vias públicas. E que dizer dos poucos e sujos monumentos históricos? Reporto-me, tristemente, às esculturas do Aleijadinho, em Congonhas do Campo, Minas Gerais.

Quanto dinheiro é gasto com shows de artistas medíocres? Uma fortuna! Servem mais para encher os bolsos de políticos mal intencionados. Esses gastos, que nada edificam, poderiam ser canalizados para obras de valor cultural e artístico.

Retornei a Brasília, saudoso do teclado do meu computador pessoal. Não aguentava mais a longa espera de voltar a escrever minhas crônicas, tão carentes da leitura amiga, despretensiosa e benevolente dos meus estimados leitores. Revi “amores” antigos, matei a saudade e retorno, feliz, ao convívio dos amigos desta cidade que já me suporta há trinta e cinco anos.