De: S.S. Potencio,  >>> Nunca se diga “Adeus” para sempre!   
No meu primeiro dia de Emigrante, gravei na memória esta palavra que expressa algo indefinível... Adeus!
Já se passaram muitas despedidas, muitas viagens de ida... e algumas sem volta, desde esse longínquo início de primavera do ano de 1962, na Estação do Pocinho, tal como já  tivémos ocasião de o relatar em crônica alegórica ao título "Do Pocinho a Santa Apolônia" e no entanto, a cada vez que nos despedimos de alguém - até mesmo dos leitores virtuais dos nossos espaços cibernéticos gratuitos ou não, e principalmente deles/para eles - nós preferimos utilizar o verbete que mais nos dá tranqüilidade de espírito, digamos sempre simplesmente Até Breve!
Nessa crônica que então escrevemos, há já alguns anos atrás, nós buscàmos um meio de rever ou pelo menos fazer algum tipo de contato;  seja físico, seja virtual, seja até... quem sabe na esfera espiritual, com o tal "Estudante de Coimbra" - aquele ilustre desconhecido que nos acompanhou em silêncio, da Estação do Pocinho até Campanhã no Porto, apenas porque o destino o colocou ali como meu Protector eventual.  
- Ao ver o meu Pai, do lado de fora da carruagem, com o chapéu amarrotado nas mãos nervosas, e a acompanhar a partida do combóio devagarzinho, com o olhar cabisbaixo ao me dizer "Adeus",... o "Estudante" do qual não sei o nome, ele me olhou nos olhos e me deu toda a esperança que eu precisava naquele instante!...
 
-Esperança de que um dia eu pudesse voltar à minha Aldeia... à  minha Caravelas de Mirandela, de Trás dos Montes!... de trás da minha infância ali perdida.
Pois assim eu passei de criança a adulto sem um pouco de juventude para amenizar a dor da "catramonzelada" recebida assim de sopetão!...

Vão com Deus!...
Adeus!!!!... dizia-me ele, o meu saudoso Pai... já lá para trás na plataforma da Estação!
- está bem!... não se apoquente dizia-lhe o Estudante da janela...  
Ao sentar-se de volta no banco, ele,  simplesmente ficou em silêncio e a escutar a minha dor!...
- Sim!... porque emigrar é aceitar a dor de perder tudo ou quase!...
É... é... ter uma dor crônica de jamais re-haver a alegria do dia anterior, dos amigos que ficaram para trás, dos parentes que não nos podem acompanhar, por mais que queiram, como era o caso ali... do Ti Zé Artur que não tinha condição de me acompanhar até ao meu destino.
- Não foi fácil ele arranjar o dinheiro para comprar os bilhetes do combóio de Moncorvo a Santa Apolónia (eu imagino)...mas muito mais difícil foi ele me deixar sentado no banco da carruagem, e... já de fora da janela,  pedir ao desconhecido a minha proteção Divina, pelo menos até chegar a Lisboa, onde... como também já o relatámos antes, a minha chegada não foi menos complicada do que a partida.
 - Nas primeiras horas, não estava lá ninguém para me receber!... só o Ardina que, entre um grito e outro...
Olhóoooo Parada da Paródia!!!!!!... é o Diário Popular!!!!!... é o Noticias!...
( entre um grito e outro, ele me olhava e me dizia... senta-te aí que alguém há-de te vir a buscar!...)
-  E... mais uma vez, o "desconhecido" veio!... não na forma do "Estudante" que me disse Adeus no Porto, e sim um Amigo da familia que para mim era totalmente desconhecido até então. Fiquei na casa dele por uns 3 ou 4 dias apenas...
O resto, daí para diante, é todo um caminho de AVENTURA e sofrimento, com alguns laivos de alegrias, pois o "Divino Desconhecido" dá sempre o frio conforme a roupa.
 
A música que a acompanha esta minha curta crônica, foi gravada pelo meu Amigo Virtual Dr Alvaro de Jesus... com letra do já falecido Estudante de Coimbra Dr Eduardo Tavares de Melo (Jurista e Grande Humanista, na linda cidade de Ponta Delgada/Açores) o qual viajava muito para Tras Os Montes naquela época para visitar Amores desconhecidos que ele tinha por lá. E ele cantava assim:
 
Não sei quem sejas, qu' importa,
Já trago a esperança perdida. (Bis)
Se és a Luz que me alumia,
Se és graça que me dá vida!  (Bis)
***
Adeus palavra tão triste,
Que a minh'alma faz chorar. (Bis)
Adeus dizem os que partem,
Sem esperanças de voltar. (Bis)

*** (in: Fado Incerteza – Canta Dr Alvaro de Jesus)
Abraço a todos e até breve...
...ai, ai!... Este Portugal Emigrante Peregrino de si mesmo porque ele é Eterno!… e nunca se diga Adeus para sempre! 
Silvino Potencio - Emigrante Transmontano em Natal/Brasil 
- O Home de Caravelas - Mirandela 

Original Publicado no Blog "ZeBico"

 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 16/12/2013
Reeditado em 22/03/2015
Código do texto: T4614399
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