Um exemplar casal 'de meninos'

Samir esteve comigo em uma das vezes em que fui a Massarandupió cobrir a eleição, no caso, a reeleição, com algumas novidades, ele entre estas, da diretoria da Associação Baiana de Naturismo - ABANAT. Até havia perguntado quem seria o repórter voluntário que faria tal cobertura, uma vez que o evento estava previsto para acontecer na praia de nudismo. Mas não vendo manifestação alguma que me deixasse seguro de que não haveria falhas, me habilitei. Me coçando todo que estava para fazer tal cobertura.

Lá, num domingo chuvoso, a votação ocorreu não na praia, mas numa pousada da vila local. Fui apresentado a todos pelo reeleito presidente, Miguel Gama, quando conheci o jovem, inteligente, e bio-sustentável - para descontrair - Samir Said. Não tive muito tempo, além duma tarde dividida entre ele, e os presidentes Miguel, e João Olavo, este da Federação Brasileira de Naturismo – FBrN, para papear com o rapaz. Mas nesse ínterim pude bem observar se tratar dum excelente sujeito. Além dum homem de fibra - não aquela que contraria seus princípios naturalistas, claro.

Mas a estrela do texto não é o brilhante, resiliente, e perseverante Samir, mas são duas: a primeira a sua bela e jovem esposa, quem tive o prazer de encontrar numa terceira ida à Massarandupió, desta vez na praia naturista. E a segunda a história do casal, à qual não conheço tão profundamente assim, mas que, pela identificação com a minha, juntamente à minha mulher – sobre quem tanto escrevo, me arvoro a discorrer acerca da impressão que tive sobre o que une os dois.

Observei em Samir um cara que, apesar de todo o potencial, carrega no semblante uma carência, talvez uma procura, deveras destacada, mas que, num contra-ponto, inspira um individuo muito forte. E, sabendo das mazelas que a vida havia lhe imposto, entre estas o acidente de moto que o trouxe a usar uma muleta, a passar meses em cima duma cama, e a sentir, até hoje, muitas dores - o que me é bem peculiar -, e comparando com seu potencial, apesar de tudo, passei a procurar, por traz dele, o quê desta razão.

Só que não encontrei. Até chegar a praia, no último domingo, e vir não atrás, mas ao seu lado. Sua doce, mas virada no sessenta, esposa Rayane – que não à toa é nordestina.


Ela estava lá, todo o tempo à seu lado. E quando digo lado não me refiro a mãos dadas, afago nos cabelos, ou aquelas históricas tirada de espinha. Não. O lado aqui é de quem também bota a coisa pra andar.  Numa das situações não pude deixar de observá-la, enquanto rolava uma reunião dos membros da diretoria, da qual o marido faz parte, com sua caneta nervosa, que não dava sossego ao caderno.

Mas isto, entre outras coisas mais que pude notar, foi muito mais que um indicativo de que se tratava duma esposa participativa. Foi o achado da procura que fiz sobre o que explicava a força do nobre Samir. Como aqui, que vivo com uma garota – se tenho 52 e ela 34 – a que xinga a mãe do guarda quando é preciso, também com o Samir Said se dá com sua garota, que de garota só tem a idade, onde esta, ao que parece, não só xingaria a mãe do guarda, mas daria bicuda na canela da tropa toda se virem incomodar seus planos, ou mexer com seu amado.

Mas o que coroa a nobreza desta, ainda que menina, mas desassombrada esposa, ignorando àquele período mensal que todo homem se treme só de lembrar, além do já aqui exposto, e do detalhe de ela sempre ter acreditado no seu amor, nos seus sonhos, e ter viajado para viver a 1.500 quilômetros do seu lugar de origem? O fato, puro e simples, de ela não só ter singelos 20 anos, mas o de ter posto o pé na estrada, mesmo encarando a surpresa do acidente dele, com então 24 anos, tendo ela não os 20 de hoje, mas os 16 aninhos de quando o fato se deu.

Mas e daí, muitas há que podem está passando por situação igual. Sim. E pode mesmo. Mas igual não é. Muito menos se pode garantir que segurem a onda até atravessar o deserto. Como se deu comigo e por isso a minha na minha vida há 13 anos. Assim como os dois estão aqui, tendo sofrido, inegavelmente, toda sorte de dificuldades, mas que, sem medo de mudanças, estão aí firmes a passar a lição a muitos já sem dentes na boca - mas que ao primeiro dissabor da vida apontam cada um seu pé pro caminho -, que deles se aproximarem. E que quiserem aprender com sua história. Com a história, desse casal de meninos.

- Samir, Rayane, não sem razão já se há dito, que não sobrevive o mais motivado, o mais rico, nem mesmo o mais inteligente, se este não for suscetível a mudanças. - Bem vindos à Bahia!!!

Aqui abraçando os dois. E agradecendo pela oportunidade que nos dão, de subir mais esse degrau na vida...