Olha ele aí

Tenho absoluta certeza de que, quando criança, esperava pacientemente, apesar de certa ansiedade, pelo Ano-Novo e Natal. Era um tal de preparar as coisas, escolher as frutas, chamar as pessoas, enfeitar o pinheiro, comprar e organizar tudo. Mas essa parte burocrática ficava para trás em meu mundo, na verdade nem existia. Como nunca fui de esperar presentes, esperava, então, por aqueles que fossem estar presentes. Não havia surpresas, meus tios, primos, irmão, mãe, às vezes o pai, mas isso me bastava tanto.

Mesmo sem esperar os presentes, geralmente eles apareciam, bonecos, carrinhos, roupas, algum acessório. Sinceramente eu não consigo lembrar muito do que já ganhei, mas não me esqueço daqueles que estiveram naquelas comemorações no fim da infância.

Os fogos de artifício riscavam a noite como fósforos acesos, e eu, fósforo riscado, me consumi por esses anos. Não quero nem mais um momento daqueles dias, quero apenas a velha sensação de viver como naqueles dias de comemoração, sem perceber que eles estão chegando ou partindo.

O homem foi inventar essas tolas divisões do tempo, mas não se deu conta de como elas são frágeis. Ao fragmentar o tempo, o ser humano perdeu a capacidade de só viver, ele sobrevive.

Já eu, humano sobrevivente e vivente, vejo o Natal chegar, e logo o Carnaval, a Páscoa e tudo o mais, como se fosse sempre o mesmo dia.