ÉTICA E DIVERSIDADE CULTURAL

“Cultura pode ser representada pelo conjunto de manifestações humanas que contrastam com a natureza ou comportamento natural. Cuja fundamentação reside na capacidade de responder ao meio de acordo com mudança de hábitos, sendo mais rápida do que uma possível evolução biológica” (Wikipédia).

Quando conheci Margareth, tinha ela 23 anos, estava fazendo o terceiro ano de Odontologia. Loira, olhos azuis e pele rosada, uma moça que chamava atenção, tanto pela beleza, quanto pela fineza que demonstrava quando conversava com os colegas e com os professores, apesar de sempre tristonha. Falava com calma, baixo e sem sotaque apesar de ser americana de nascimento. Num determinado dia, ela se mostrou mais calada e melancólica. Aproximei-me, querendo saber o motivo.

- Ah professor, é por causa de minha mãe, não combino com o jeito dela!

- Por que, disse eu?

- sabe professor, é muito complicada a nossa relação, principalmente após a morte de minha irmã gêmea...!

- você perdeu sua irmã, como foi?

- morreu de acidente, ela caiu da moto há mais de um ano, foi morte instantânea...!

-Posso desabafar com o senhor?

- Claro que sim!

Conforme seu depoimento, seu pai quando jovem foi para os Estados Unidos da América fazer pós-graduação em uma Universidade do Sul desse país. Logo que chegou conheceu sua mãe, sendo amor a primeira vista. No entanto, aquele brilhante rapaz não foi aceito pelo avô materno de Margareth: afinal ter filha casada com latino-americano era algo inconcebível para alguém de sangue ariano puro. Todavia, o amor foi mais forte e acabaram se casando. Moraram alguns anos nos EUA, nesse meio tempo, nasceram as duas filhas gêmeas. Posteriormente, quando acabou o curso de seu pai voltaram todos para o Brasil.

Margareth relatou que depois do falecimento de sua irmã seu pai passou a beber e aposentou-se precocemente, perdendo a alegria de viver. Sua mãe ao contrário, continuou a mesma de sempre, calculista e fria. Aparentemente, o fato de perder uma filha tragicamente, não mudou em nada sua rotina diária. Por conta dessa situação, a filha sobrevivente apegou-se mais ao pai e afastou-se da mãe.

Talvez, o sofrimento “terceiro mundista” vivenciados pelos indivíduos dessa parte do planeta os impelem a ter um comportamento mais humano e solidário. Provavelmente, sentir na pele a dor e a miséria fazem despertar no homem com muito mais intensidade, a caridade e amor pelo próximo, que naqueles que nunca conviveram com uma situação semelhante.

Sangue latino misturado com africano resulta quase sempre em indivíduos mais apegados aos familiares, enfim mais amorosos. Contudo, emocionalmente mais frágeis. Naturalmente esse contraste fica mais evidente pela convivência com pessoa de outra etnia, como foi o caso dos pais de nossa aluna. É claro que toda regra tem exceção, mas a observação empírica do caso leva inevitavelmente a esse raciocínio.

Muito embora, Margareth fosse de família de classe média, certamente nunca passou necessidades financeiras de grande magnitude. Todavia, o convívio com pessoas pobres familiares ou não, seja uma constante para quem vive aqui no Brasil. Logo ela, e principalmente seu pai, não estariam isentos a essa influência.

A questão da aparente indiferença materna, não pode ser encarada como uma manifestação de mau caráter. Talvez, a falta de diálogo familiar fosse o grande problema encontrado nesses momentos de angústia. Aconselhei minha aluna a procurar sua mãe e a conversar com ela, procurando entendê-la melhor. Afinal, Margareth conhecia os dois lados da moeda, ou melhor, as duas culturas confrontantes. Sua intervenção poderia trazer mais conforto ao pai e à aproximação com a mãe. Assim, todos juntos poderiam superar esse vazio que a morte sempre traz a qualquer família em qualquer lugar do mundo.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 20/12/2013
Reeditado em 06/01/2014
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