COISAS DO FUTEBOL...

COISAS DO FUTEBOL...

Com os pescadores acontece muita coisa, porém, no futebol das cidades do interior acontecem coisas piores .

A seguir, serão relatados três episódios, dois dos quais foram protagonizados por ex-goleiros de Porto Firme.

1- No início da década de 50, o Porto-Firme Futebol Clube foi disputar o campeonato de Viçosa. Para a população local foi o maior acontecimento esportivo do ano: ver o seu time jogar com o Atlético, o Operário , o Colégio de Viçosa, a Universidade e vários outros times de Viçosa e de cidades vizinhas. Assim, o time teve que buscar alguns reforços do Piranga Esporte, tais como Elpídio Navais, Luiz Cornélio e Jeremias.

A estréia do Porto Firme foi exatamente contra o Atlético em Viçosa. Muitos acharam que o Porto Firme iria levar uma tremenda goleada, mas não foi isso o que aconteceu. O seu goleiro, estava pegando tudo. O jogo estava em zero a zero até os 40 minutos da etapa final, quando o juiz, que era de Viçosa, marcou um pênalti contra o Porto Firme.

Aí começou a confusão: Bate! Não bate! Bate...

Depois de muita discussão, a decisão do juiz prevaleceu. Acontece que o goleiro do Porto Firme, em sinal de protesto, foi para o gol e encostou-se em um dos postes e cruzou os braços . O atacante do Atlético, na hora da cobrança, vendo que o goleiro não estava “nem aí” resolveu se esnobar:- caminhou em direção à bola e deu um leve toque na mesma. A bola foi rolando de mansinho na direção do gol. O goleiro vendo isso, descruzou os braços, saiu correndo e deu uma “bicuda” na bola, evitando o gol.

Os jogadores do Porto Firme correram para abraçar o goleiro. O cobrador do pênalti saiu cabisbaixo em direção aos companheiros...

2- Ainda, o Porto Firme Futebol Clube:

Quando o Zé Noé era goleiro do Porto Firme, por sinal foi um grande goleiro, o seu time foi jogar em Piranga contra o Nacional, em meados da década de 50.

O Zé Noé, quando estava no “seu dia”, defendia tudo e provocava os atacantes adversários. Nesse jogo, em Piranga, o Zé Noé estava pegando tudo.

No ataque do Nacional jogava o Padre Lustosa, com a sua batina arregaçada. O Padre era dono de um chute violento, além de ser um exímio cabeceador.

O Zé Noé, depois de várias defesas sensacionais na partida, resolveu desafiar o Padre. Quase no final da partida, após outra grande defesa, o Zé rolou a bola para fora da grande área na direção do Padre e gritou: Chuta Padre!

O Padre Lustosa, pressentindo o desafio do Zé, soltou uma bomba com a canhota, fez o gol e ainda arrebentou a rede. O Zé nem viu onde a bola passou...

Após a partida, ele dirigiu-se ao Padre e, como num pedido de desculpas, disse cabisbaixo:

-A sua bênção Padre!

3- Por volta de 1964, a União Sportiva Educacional – U.S. E- de Calambau , foi jogar com a União de Brás Pires, time dirigido pelo Sr. Dorvalino, mais conhecido por Sô Dove. O campo era péssimo. Além de pequeno, situava-se à beira de um grande declive que terminava em um bananal.

No jogo principal, fui ser o juiz. O jogo foi muito catimbado. Quase terminando a partida, vencíamos por 2 x 1 e, como já estava escurecendo, dei o jogo por encerrado. O Sô Dove me procurou e disse-me: Olha, se você não der mais dez minutos de jogo o seu time não receberá a garantia. A garantia era a importância em dinheiro que o time visitante recebia, para fazer face às despesas de locomoção até o local do jogo.

Ponderei com o Sô Dove que já estava escuro e que não poderíamos continuar com a partida. Como ele não concordasse de forma alguma, chamei os nossos jogadores que já haviam tirado os uniformes e o time retornou ao campo.

Antes de reiniciar a partida, guardamos a nossa bola que estava sendo utilizada quando a bola deles era jogada pelo lado do “abismo”.

Chamei o Patiágua (nosso zagueiro) e combinamos que, quando a bola viesse em direção à nossa defesa, ele a isolasse pelo lado do bananal. Assim foi feito. Como ele era dono de um potente chute, a bola foi mandada para muito longe. Eles queriam que colocássemos a nossa bola em jogo, mas nós não aceitamos. Passaram-se os dez minutos e não acharam a bola. Dei por encerrada a partida, ganhamos o jogo e o Sô Dove nos deu a garantia...

4- Na década de 80 era muito grande a rivalidade entre as equipes do Bom-Fim e do Itapeva, ambas as equipes da zona rural de Calambau. Estes times resolveram disputar um troféu em dois jogos. O primeiro jogo foi no campo do Bom-Fim, e a vitória coube a este por 1 x 0. O segundo jogo foi marcado para o campo do Itapeva. Neste jogo o juiz seria indicado pelo Bom-Fim e os bandeirinhas pelo Itapeva.Um dos bandeirinhas,o Teixeirinha,torcedor doente do Itapeva, foi para o campo com determinação de não deixar o Bom-Fim ganhar o jogo. Até a sua mulher havia lhe dito para fazer o que pudesse para que o seu time não perdesse.Torcida inflamada, nervos à flor da pele. quarenta e quatro minutos do segundo tempo... O Itapeva no ataque e faz o gol.Vibração geral da torcida! E o nosso amigo Teixeirinha com a sua bandeirinha sai saltando e gritando pela lateral do campo com ela levantada. Os jogadores do Bom-Fim partiram para cima do juiz dizendo que o gol foi feito em impedimento e apontaram para o bandeirinha Teixeirinha que ainda estava com a bandeira levantada e vibrando.O juiz vendo aquilo invalidou o gol e o tumulto foi geral. O Teixeirinha então correu até o juiz e tentou explicar-lhe o que havia acontecido. O juiz que era também torcedor do Bom-Fim, não aceitou a explicação. O Teixeirinha como último recurso ainda disse ao juiz:-Pelo amor de Deus, não faça isso com o nosso time! Como vou dizer para a minha mulher que anulei um gol do Itapeva! Ai meu Deus!

O juiz foi inflexível e o Bom Fim ganhou o troféu.

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Murilo Vidigal Carneiro

Calambau, novembro 2013

murilo de calambau
Enviado por murilo de calambau em 20/12/2013
Reeditado em 22/11/2015
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