Sugestão aos senhores prefeitos e gestores culturais: Papai Noel não é o cara.

Sugestão aos senhores prefeitos e gestores culturais: Papai Noel não é o cara.

Às vezes fico pensando e morrendo de vergonha alheia quando vejo algumas decorações municipais feitas de improviso e sem nenhuma preocupação estética e ideológica. E colocam tanta besteira pendurada que dá dó, achando que já estão fazendo de mais e isto não é obrigação. Seria um favor?

Nos festejos natalinos e nas decorações municipais é muito mais interessante adornar a cidade com elementos da cultura popular no resgate dos pastoris, da queima da lapinha, do reisado, do boi de reis, do bumba meu boi, do próprio nascimento de Jesus Cristo e toda sua simbologia, nos autos de natal, na xilogravura da literatura de cordel, do que reafirmar a ânsia consumista do Papai Noel. Deixem que os shoppings centers sempre defenderão a memória deste último. Que ficará lá no pátio com suas renas sorridentes torcendo que você compre o que não precisa para pagar com o dinheiro que não tem.

Quais os sentimentos e os valores que queremos ver preservados?

E é incrível como em muitas prefeituras é fato que a política de cultura é tida como um acessório e não como um eixo imprescindível para o desenvolvimento da cidade. Muitas vezes colocam um cidadão na chefia da pasta de cultura apenas para lhe dar um emprego. Por ter sido vereador e ter perdido a eleição. Outras por ser parente de alguma liderança, loteando aquele espaço com um inepto orgulhoso e egocêntrico.

Algumas vezes o mesmo até trabalha um pouco. Outros até compreendem a política, mas muitos passam o tempo só enchendo linguiça. Não compreendem a importância da cultura para a evolução da humanidade. Daí no Natal, botam qualquer porcaria ou até mesmo nada, nadinha, nos palcos e nas ruas. E as decorações natalinas são motivos de piada. Teve uma prefeitura que colocou nos postes uma vela e duas bolas de natal. Qual a associação que o povão teve? Um falo em riste financiado pelo poder público. Nada contra, mas muita gente acha um insulto.

Outros trepam meia dúzia de lâmpadas coloridas do Paraguai e tudo certo. Sim, mas onde está a demonstração simbólica do povo que gosta de coisa boa e de luxo, como dizia Joãozinho Trinta. O povo não gosta de miséria. Quem gosta é intelectual. O povo quer ostentação e beleza.

Muitas vezes, as prefeituras não entendem e enxergam a Secretaria de Cultura como adorno ou como realizadores de festa. Pode até ser. Mas não é só isso. E por isso não criam o conselho de Cultura, não criam o Fundo Municipal de Cultura nem fazem a adesão ao Sistema Nacional de Cultura, privando o seu município de receber futuras verbas para desenvolver o setor.

Alguns gestores não compreendem. Não conseguem ver o talento de seu povo. E vão buscar para seus eventos artistas da moda e da cultura de massa. E os mestres, os cantadores, os violeiros, os emboladores de côco, os sanfoneiros, pintores, os cordelistas, cirandeiros e demais artistas populares, vão morrendo à mingua no desestímulo cotidiano. Achando que sua arte não é importante.

Perdem todos. Os artistas extraterrestres pegam a grana e vão embora, os de casa ficam, geram autoestima. Não quero dizer que um bom show de fora não deva ser contratado. Deve sim, mas aquele que tenha uma qualidade apreciável para o que se quer preservar. Que se prime pela multiculturalidade. Pela diversidade. E ainda é de bom grado que e se invista também nas ações contínuas de cultura. Tem prefeitos que não gastam nada com cultura o ano todo, e no dia da festa da cidade torram todo o dinheiro do povo com um showzinho qualquer de orçamento suspeito. Onde as comissões rolam por debaixo do pano. Claro, alguns estão ali pela grana e espoliam a cidade até quando não puder mais. E os cursos para os jovens aprenderem e desenvolverem seus talentos. E a arte que precisa circular e tirar toda gente do marasmo. E os artesãos com seus artesanatos? Ficam jogados na própria sorte. Esperando que alguém se agrade de sua arte. Alguns gostam tanto que avisam para os amigos e de grão em grão transformam ela na coisa mais marcante e atrativa da cidade. E a vida vai seguindo e tem prefeito comprando neve e jogando na praça para o povo pensar que é nórdico e por isso ser mais feliz.