Voar é preciso; viver não é preciso

Ícaro tupiniquim.

Eu estava sozinho em casa; quando de repente começou a chover balas por todos os lados; achei melhor sair para o pátio, não sei porque, acho que era para enfrentar os bandidos em campo aberto. A chuva de balas não parou; porém, por milagre, nenhuma delas me acertaram. Como não tinha pra onde ir, alcei um voo rápido que, em poucos segundos deixou-me a centenas de metros do lugar. Quando percebi, estava em outra cidade, totalmente desconhecida e várias pessoas passavam voando. Ali, voar parecia ser normal. Junto com algumas pessoas, na cumieira do telhado de uma mansão toda coberta de trepadeiras floridas, vi uma pessoa do meu lado, que ainda não tinha asas. Ela tremia toda por não ser alada. Perguntei para alguns seres de asas azuladas que pareciam nos guarnecer: "por que é que aquela menina não têm asas?" Ele gritou de lá: "ora, não vês? Ela, por muito tempo, ainda vai voar com as tuas"! Peguei aquela criança no colo, era pesada, parecia ter onze anos; e recomeçaram as balas. Abracei a criança com força enquanto perdia a maioria das penas das asas, porém nunca perdiamos altitude, mas no nosso corpo nada acertava, o esforço para permanecer voando era tanto que eu suava aos cântaros. Conseguimos voar para bem longe dali e ficamos sozinhos no cume de uma montanha. Quando olhei para o lado. era minha filha, mas não tremia, só o meu medo era intenso. Acordei cansado e com palpitações. E pensei: "voar é preciso, viver não..."

Carlinhos Matogrosso.

carlinhos matogrosso
Enviado por carlinhos matogrosso em 04/01/2014
Reeditado em 06/01/2014
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