Não altera o placar

O que vem acontecendo com o rapaz Diego Costa é absurdamente deplorável e ridículo. Claro que não me refiro dentro das quatro linhas, onde o jogador tem mostrado oportunismo e bom faro de gols; o problema é externo.

Recentemente, em partida disputada contra o Valência, o jogador foi “hostilizado” pela torcida adversária, que gritou da maneira mais européia possível “Costa, canalha, não é espanhol”. Algum problema? Não, basicamente. Ele não tem nada de espanhol, sangue, traços, parentes, nada. No entanto, é justamente aí que reside o problema: qual o pecado mortal em trabalhar em outro lugar que não seja o seu país?

Aqui no Brasil, o que mais se escuta, quando o assunto é o jogador, são palavras ofensivas e de baixo nível, ideológico, principalmente. Diego está pagando por uma atitude totalmente normal: vestir a camisa do lugar onde foi bem acolhido e que lhe deu oportunidade de crescer.

São inúmeros os torcedores que o consideram um traidor e, pior, um “canalha” por renegar as suas origens nordestinas, de um povo viril, de fibra, que não abandona a luta mesmo nas horas mais difíceis, que afunda com o barco, que isso, que aquilo.

Sendo assim, o atacante ofendeu a moral e os bons costumes brasileiros ao decidir atuar por um país estrangeiro. Coisa que o atual técnico da seleção, o dito pai da Famiglia, não fez. Não é, povo feliz? Aqui, na opressolândia, as pessoas torcem por um grande tropeço de Diego Costa, esperando que o jogador, após apagada passagem pela seleção (segundo a torcida), volte ao seu país de origem, com o semblante cabisbaixo e infeliz, dizendo que cometeu um grande erro ao renegar a amarelinha em detrimento dos terríveis e xenófobos espanhóis.

Depois disso, o povo saíra às ruas, contente e feliz, dizendo que Costa é um humano e, acima de tudo, brasileiro, e que tem todo o direito de errar. Que a Espanha não compreendeu o atacante e, por isso mesmo, ele não foi bem na seleção daquele país. Dirão também que o atleta é bem vindo em qualquer clube do país, desde que seja o clube da torcida X. Se for da torcida Y, logo falarão que ele é um traidor e medíocre e que merece mesmo estar na torcida Y, e vice e versa.

O brasileiro torce contra seus filhos que tentam vencer, parece. Não sei se por frustração, inveja ou simplesmente por espezinhar a vida alheia. Se aplaudirmos um estrangeiro, somos burros. Se os estrangeiros nos aplaudem, somos bons e não precisamos da ajuda do exterior. É o velho jogo dos interesses, onde quem está por cima é mítico e intocável, até encontrarem uma pedrinha que se transforma num meteoro.

Se Diego Costa já fosse naturalizado antes das vésperas da Copa do Mundo, ninguém diria nada. Aliás, nem se comentava muito o nome dele por aqui. Depois de um triste e lamentoso desabafo do Señor Scolari, aí a coisa mudou. De esquecido e “um qualquer”, Costa passou para inimigo publico, contraventor, mal caráter e ingrato. O menino que cuspiu na terra mãe.

Enfim, a Copa está aí. Oportunidade única dos desafetos verem pessoalmente o rapaz, ou mesmo a grande parte dos atletas que atuam na seleção brasileira. Mas estes, ao contrário de Costa, não cometeram o pecado capital de trocaram de país. Só moram em outro continente, recebem em outra moeda, compram em outros países, casam-se com estrangeiras, falam outro idioma, adquirem hábitos e costumes diferentes dos nossos, mas passam as férias no Brasil. Sim, esses são patrióticos e heróicos.

Começa o jogo.