Ponto, pula linha, travessão.

Estou certa de que as minhas conversas mais difíceis seriam simples se a outra pessoa seguisse o roteiro que preparei minuciosamente na minha cabeça. Mas ciente da impossibilidade de alguém ler meus pensamentos, me permito gaguejar um pouco, saindo eu mesma de tudo que havia planejado. Eu tenho essa mania. Imagino conversas inteiras. Faço perguntas, suponho as respostas, decido um jeito mais sutil de pedir que não me interrompa nos momentos em que penso que serei interrompida. Preparo respostas grossas caso precise delas, as bem educadas e as doces. Dia desses, angustiada com as mais diversas situações daquela semana, eu elaborei duas. Uma mais pessoal, falando de amor e medo. A outra com meu chefe. Ambas precisando urgentemente sair de mim diretamente para os ouvidos específicos. Ri da minha tolice de dialogar comigo mesma e escolher tão bem as palavras, quando na verdade sei que vou perder várias delas, engolir outras e muitas vezes nem darei início a conversa. Quem me vê de fora, asseguro que nota minhas emoções. Como ninguém me vê de dentro, asseguro também que dificilmente saberão o motivo delas. Sorte de quem não consegue ler meus pensamentos. Sorte dos meus pensamentos.

Marília de Dirceu
Enviado por Marília de Dirceu em 09/01/2014
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