A vida continua

A VIDA CONTINUA

FECHANDO PRA BALANÇO

Inicio de um novo ano (2014) ainda em tempo para retrospectivas e para reflexões. E os tempos mudaram e com o advento da tecnologia, ninguém mais fecha pra balanço literalmente como se fazia antigamente com aquelas placas e tudo mais e não se surpreendam se a morte também deixar de ser motivo para um daqueles outros avisos no estilo surpresa: “Luto em família”. A premissa é aquela velha conhecida: A vida continua e os negócios também.

Os “softwares” e câmeras de filmagens que monitoram o tempo todo, os estoques e o controle das entradas e saídas tanto de dinheiro como de mercadorias, o fluxo de entrada e saída de clientes, seus movimentos (suspeitos ou não) é contínuo e quase que rigorosamente preciso. “Time is money” e dentro dessa filosofia arrecadadora, quase uma crueldade capitalista, nada pode ser interrompido e nada escapa ao controle, até mesmo a morte é bem-vinda sempre num feriado ou final de semana, para um velório estilo sedex 10 em direção ao condomínio de sete palmos, com os custos e benefícios de conveniência se comparados a um falecimento por exemplo, numa plena quarta feira.

Nos últimos dias tivemos pesadas e doloridas perdas de seres humanos que se destacaram na vida artística, política, mas nada que não possa ser esquecido imediato. Ou então a mídia sem assunto, ou em busca de ibope, vai falar e mostrar na TV, dia e noite todos os detalhes do desaparecimento. São os chamados urubus da imprensa mercenária e dessa forma gente como Elvis Presley, Airton Senna, Michael Jackson, Lennon e outros famosos, jamais terão sossego no tumulo.

Já na administração pública nem é preciso um balanço, a não ser o da nossa própria consciência, que somos maus eleitores e ao mesmo tempo corruptores, nas propinas aos guardas de esquinas e como “vencedores” de concorrências públicas e “experts” em sonegação. Fazemos tudo isso e do nosso meio brotam os políticos corruptos que são exatamente aquilo que somos aqui fora e em alguns casos, somos nós mesmos.

Falar nisso pra que, né? E estragar o bom humor de muita gente que atualmente, por exemplo, vive da indústria de vender e/ou comprar renovações de carteiras de motoristas? Ou de vender, por exemplo, resultados de provas de vestibulares ou até mesmo traficante de armas e drogas e que sobrevivem da avassaladora indústria da morte precoce. Ou então o mais comum, a indústria da mentira, esconder o próprio rabo e falar mal dos políticos contrários à sua facção política, ideologicamente falando. O mais grave dos pecados estocados em nosso bojo de indignações, é aquele que fica alojado em nossas consciências, brincando de gato e rato.

Já estamos em pleno 2014 e com certeza muitos de nós ainda não aprendeu a caçar ou cassar e pior, ainda não sabemos se somos caça ou caçadores. Ou sabemos? Essa é a pergunta que cala ou que dói.

Você conhece alguém pra usar ou pra denunciar? Melhor não falar nisso, porque as conveniências existem e tudo é muito relativo num mundo onde tudo é possível e muita gente (pasmem) até acredita que todo homem tem seu preço. E nesse balanço geral que fazemos, nossas ações já estão na bolsa do futuro, mas sempre terão o carimbo do passado e o chamado valor nominal. Ágios e deságios são reflexos diretos do nosso desempenho.

Fácil deduzir que o câncer na administração pública está em estado avançado e sempre com a nossa conivência no voto e nas “ações”, pois somos nós que saímos daqui e vamos pra lá. Quando a consciência dói muito, a morfina que funciona é a certeza do perdão divino. Ah... perdoar e esquecer é tão lindo e romântico.

Os indultos de natal custam muito barato e são distribuídos como cestas básicas, roupas velhas, brinquedos encostados ou até mesmo um polpudo cheque para pagamento de um dizimo aconchegante no estilo grupo 318 da IURD. Afetam muito pouco a liquidez e brinca solenemente com a consciência pesada.

Mas e nas outras questões da vida particular, tudo estaria na mesma ordem? Suas ações na bolsa de valores humanos estariam bem cotadas ou despencaram nos últimos tempos?

Você se considera um cara dinâmico, produtivo, útil ou é daqueles que pega um banquinho e fica sentado o tempo todo na porta de sua casa olhando pro céu e somente se levanta pra ir ao banco receber aquela aposentadoria? No emprego, num cargo de chefia, você se considera Justo? Não comete arbitrariedades, não aplica de forma irresponsável a fábula do soldadinho e da cabrita?

Ou estaria escorado em algum emprego público nomeado por um amigo ou parente, onde não faz nada e nem poderia fazer porque nem saberia? E sua consciência acusa ou você é do tipo tô nem aí?

Ou você ainda é daquele tipo de jovem que escora no dinheiro do “velho” sabendo que um dia vai sobrar tudo pra você?

Nosso balanço geral, portanto, é mais complicado. Nossa demonstração de Lucros & Perdas é mais sofisticada e pelo fato de sermos vigilantes de nós mesmos, essa é a mais difícil tarefa do ser humano. Avaliar os amigos a curto prazo, conservar aqueles à médio prazo e investir pesado naqueles à longo prazo e transferi-los para o ativo imobilizado sem depreciação acelerada.

Os itens do ativo são de uma variedade muito grande e de pesos diferenciados. Você pode ter um estoque muito grande de virtudes, mas pode durante um período ter esquecido de alguns códigos de ética e quando você fizer um balanço geral de sua vida, você pode se assustar com as suas reservas morais no vermelho.

O seu livro razão chama-se consciência e as contas de débito e crédito não vão fechar. Você mesmo vai ter que apurar as diferenças, e encontrá-las não será fácil. Na análise das contas de apuração de resultados, você pode concluir que se tornou com o tempo, amargoso, um produto mal acabado, de segunda qualidade e que o seu índice de liquidez está pintado de vermelho, na zona do perigo.

Mas acredite, ninguém vive somente desse ingrediente complicado e distorcido pelas intempéries da modernidade ou da conveniência dos números impregnados em cédulas que a gente chama de dinheiro. O seu ativo disponível em banco estiver com saldo precário, seu grau de stress vai atingir uma temperatura perigosa. Como está seu estoque de amigos? Mais entradas que saídas? Se for assim tudo bem. E o estoque de inimigos? Esse, se houver crescido muito trate logo de fazer um estorno ou repensar seus conceitos.

Quantas vezes no ano, você elogiou, agradeceu, reconheceu seu erro, ou quantas vezes você foi capaz de pedir desculpas. E a coragem para dizer a verdade na cara, olhando nos olhos, enfrentando um questionamento difícil.?

Na empresa chamada vida & Cia, você pode estar num grupo de ativo imobilizado muito perigoso, chamado semoventes e dependendo da data de aquisição e uso, sua depreciação já pode acusar que você não tem mais utilidade e está obsoleto e, portanto prestes a ser “baixado” e transferido para a conta de Lucros & perdas. Vai estar demonstrado então que você não cuidou adequadamente da manutenção e sofreu uma depreciação acelerada..

Por quantas vezes você foi capaz de apanhar, cair no chão, agüentar o tranco, como se diz, sacudir a poeira e se reerguer?

Por quantas vezes você teve a coragem de dizer: Foda-se, dane-se, faça como quiser, a minha consciência está tranqüila. E as suas coisas mal resolvidas, o estoque desse ano cresceu ou diminuiu? E os que você não resolveu foi por causa de tempo, incapacidade ou por falta de dinheiro? Ou você sequer tem consciência de qual motivo seja?

Sua vida amorosa, sua intimidade, seu carinho com a família, com as pessoas que você quer bem, qual a situação? Nesse ano que passou, você ficou sentado vendo o tempo passar ou agitou? Passou em frente a uma floricultura e levou um “bouquet” de rosas pra casa, sem mais nem menos, quantas vezes? Parou em frente a uma confeitaria e lembrou-se de que sua mulher ou sua filha, gostam de quindim, por exemplo, comprou e fez uma surpresa? Quantas vezes você disse bom dia ao telefone, ou num elevador ou na porta de casa cruzando com um vizinho?

Você é capaz ainda de arrumar um tempinho pra engraxar seu próprio sapato? Você tem paciência para desmontar uma cadeira velha, e você mesmo consertá-la, colar as peças, lixar e passar um verniz? Ou é daqueles práticos e objetivos que fazem logo a conta do “custo beneficio”, sugerido pela maldição do capitalismo selvagem,(por sinal, de joelhos aí diante do mundo) joga logo fora e compra uma nova?

E alguém mais elitista ou mais “espinhoso” pode estar imaginando façanhas mais espetaculares, como uma viagem internacional para Buenos Ayres, dançando um tango no “La Bocca”, ou fazer compras no Lafayette em Paris, ou conhecer Cancun num cruzeiro marítimo num transatlântico de luxo ou realizar o sonho de comprar um charuto Cubano em Havana nas barbas de Fidel, ou dançar como um Grego, na Grécia dos sonhos de Antony Quin.

Bom, muito bom. Sinal que seu estoque de dinheiro e vaidades está ou estava em alta e que você estava tentando ser feliz, ou mais feliz. Pode distribuir cartões de visita e se sentir importante através deles. Coisa de garotos “bad boy” ou de ricos pedantes.

Se você leu tudo isso aqui e gostou das suas próprias respostas, você com certeza fez uma analise de balanços bem correta e dispõe de um bom índice de liquidez. Não corre risco de ter sua falência decretada, mesmo que seja por uma introspectiva provocada (rs).

Viram? Mais uma vez, como diz o Goiano; “num dô conta” de ser mais curto ou menos prolixo. E não se esqueça: Cuide da saúde, pois essa não tem preço.

Um excelente 2014 a todos e que a nossa seleção possa quando estiver em campo, pelo menos usar jogadores que saibam cantar o hino nacional, pois lá fora recebendo em Euro, eles esquecem muito rapidamente.

Luiz Bento (Mostradanus)
Enviado por Luiz Bento (Mostradanus) em 11/01/2014
Código do texto: T4645327
Classificação de conteúdo: seguro