SERÁ MESMO QUE A VOZ DO POVO É A VOZ DE DEUS?

Achei interessante uma passagem bíblica que li ontem, é muito atual do ponto de vista político e social e vejo que é algo recorrente na história, mesmo em culturas tão diversas da nossa, para quem se interessar o texto na íntegra está no Livro de Atos dos Apóstolos capítulo 14 versos 8 a 20.

Pelo que li, o apóstolo Paulo de Tarso chegou em listra acompanhando de Barnabé e ao ver um paralítico o curou, o povo vendo aquilo passou a tratá-los como deuses, Paulo seria Hermes e Barnabé seria Zeus, os sacerdotes locais quiseram oferecer sacrifícios porque “Os deuses desceram até eles em forma humana”, porém Paulo e Barnabé recusaram a receber tais oferendas e afirmaram que a cura que realizara no homem paralítico era “Obra do Deus vivo” passado algum tempo, alguns sacerdotes judeus sabendo disso foram até onde ambos estavam e conseguiram convencer o povo de que eles eram blasfemadores, e então passaram a ser perseguidos e Paulo, inclusive foi apedrejado, esse é um breve resumo, sugiro a leitura do texto na íntegra.

Curioso como esse fato mostra claramente que um grupo pequeno sempre está por trás de agitações populares, e muita gente confunde isso com democracia, sinto muito, não é... Democracia não é a vontade da maioria simplesmente, Democracia é feita também de VALORES, entendo que a cura do homem causou uma comoção muito grande nos populares da época, porém, aquilo foi um valor temporário, que, por coincidência, foi ao encontro do valor eterno e imutável,representado por Paulo, no caso, Deus, ( e cada um entenda Deus como quiser entender, não estou fazendo proselitismo desta ou daquela crença em particular) quando acontece esse casamento de valores temporários com valores perenes, há felicidade, gozo e heróis são criados, ou para ficarmos no contexto: deuses são criados.

Logo após, alguns sacerdotes, instilaram esse mesmo povo que adorava a Paulo e Barnabé contra eles, não ficou claro como os judeus fizeram isso, o que disseram, mas isso é o de menos, o que me espantou foi a repentina mudança de valores daquelas pessoas, que até pouco tempo atrás louvava os deus, Paulo e Barnabé, mais uma vez se mantiveram firmes, afirmando o mesmo que sempre disseram quando adorados, e por isso foram escorraçados.

Fosse a voz do povo a voz de Deus, essa voz seria uma só, e não seria manobrada pelo interesse de uma minoria, e vou mais além, creio que nem sempre a voz da própria Igreja é a voz de Deus.

Para que acredita em Deus, esse representa valores que são eternos e inegociáveis, como a igualdade perante a lei, a liberdade e todos os direitos humanos fundamentais, nunca nos enganaremos se tivermos como bússola os princípios e valores que são eternos, mas há um preço a pagar pela ousadia de se viver assim pena que o de Paulo foi o apedrejamento (e não se preocupem, ele sobreviveu, morreria anos mais tarde decapitado), talvez o nosso preço seja o isolamento dos que acham que tem opiniões modernas e considerem isso de valores e princípios coisa de tradicional antiquado, mas eu afirmo que onde não há valores e princípios que norteiem as condutas e que nos ofereçam a oportunidade de avaliar o que pode ser bom a longo prazo, o caos reinará, não devemos nunca ser avesso a mudanças, o progresso é algo ínsito do ser humano, porém esse progresso deve estar assentado em alguma base, e discutido exaustivamente tendo em conta todos os interesses envolvidos.

Paulo e Barnabé sustentaram até o fim os valores que defendiam, e o fizeram por uma questão de convicção, falta isso hoje em dia, faltam pessoas comprometidas com algo maior do que elas mesmas. Sobram grupos cada vez maiores que mudam de lado conforme o que é dito ou feito, a “Metamorfose ambulante” precede a alienação, nunca o mundo precisou tanto de “velhas opiniões formadas sobre tudo”