Antes ou depois do teatro, em cima da ponte

Antes ou depois do teatro, em cima da ponte

Fatima Dannemann

No beco de Kafka não tem baratas. Mas é tanta gente no beco que mais parece um formigueiro. O beco de Kafka é uma rua estreita com belas casinhas coloridas com tudo como era há mais de cem anos. Em Praga, naturalmente, no alto de um morro de onde se contempla a bela cidade. Lá embaixo, o Moldava corre rápido e o point da cidade é uma ponte. Antes ou depois do teatro, as pessoas se encontram na Ponte Carlos e lá acontece de tudo: música ao vivo (de todos os tipos inclusive o velho, bom e americano jazz), exposições de arte meio informais, lançamentos de livro. A cultura acontece ali a meio caminho do teatro negro, outra atração do local: sombras, músicas, mímicas e muitos efeitos especiais numa ousadia que deixariam perplexos os ex-líderes comunistas tchecos.

Praga é um acontecimento, inverno, primavera, outono e se for verão, melhor, as luzes das mil torres se tornam rivais do sol por conta de suas luzes. No meio da cidade, o Moldava que inspirou compositores como Smetana e Dvorak, escritores como Kafka e Milan Kundera. Mas praga não é somente música, teatro, romance. Também é um grito de liberdade. Turistas percorrem os mesmos caminhos que John Lennon, visitam o palco da Primavera de Praga, ouvem os moradores locais falar com fervor do amor que eles têm pela liberdade e democracia e o que isso custou a eles. E nas outras horas rezam na igreja do Menino Jesus, um dos santuários mais visitados do país.

Capital da República Tcheca, Praga acontece e fervilha. Lá rola de tudo, boa cerveja, bares animados, boa comida, belas jóias de granada ou âmbar. Catedral superlotada, o presidente de um pais renovado passando de carro pelos turistas na maior simplicidade. Meninos e meninas bonitos, antenados, sorridentes vestindo a ultima moda. Ah, e ouvindo música pop (na ponte e na praça onde fica o relógio astronômico, outro lugar legal para se passar horas conversando, vendo o movimento, ou mesmo apenas pensando na vida). Praga tem o antigo, o moderno, boas e más lembranças, mas muita criatividade.

Alguém resolveu criar uma continuação da história de Alice no País das Maravilhas. O texto, coreografado, musicado, roteirizado virou Aspectos de Alice, peça que está em cartaz - dizem os tchecos - há uns belos dez anos, e conta a história de Alice depois de adulta. Sua passagem pela adolescência, descoberta do amor, casamento, nascimento dos filhos, enfim, tudo o que poderia ter acontecido com a heroína de Lewis Carrol depois que ela se despediu do gato sorridente, do chapeleiro louco e do coelho branco e voltou ao mundo real. Alice. Mas nem só de sombras negras vive a arte de praga. Marionetes também fazem a festa e, prato cheio para as misses, "O pequeno príncipe" é um dos campeões de audiência.

Não vai ao teatro? Não quer caminhar pela ponte? Só observar a cidade. Só ver a luz da capital de um país que é tão especial que haja quem veja duendes e fadas em seus bosques e florestas já merece a passagem. É o antigo e o moderno que se misturam. É um shopping high-tech com griffes importadas que convive com o típico e o folclórico. São girassóis que iluminam as vitrines. A granada que faísca nos anéis. O azul dos olhos das pessoas a refletir o céu dos dias de verão. Crianças lindas que vivem um novo amanhã, numa terra que sofreu, mas conseguiu ser livre e ser feliz. Praga... Lá só não têm baratas... Mas, nem Kafka, se visse a Praga de hoje em dia, sentiria falta delas...

Maria de Fatima Dannemann
Enviado por Maria de Fatima Dannemann em 26/04/2007
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