A DOR DE SNAZALACK

A tristeza que se formara em seu interior por tantas mágoas acumuladas no dia a dia, ele sente que lentamente se desvanece.

Volta a ouvir o cantar dos pássaros, que já até não conseguia distinguir dos ruídos peculiares em seu redor; novamente se encontra admirando o belo colorido das flores, admira a relva molhada pelo sereno que costuma cair sobre a mesma no inverno aqui em nossa cidade; novamente lhe chama atenção o perfume peculiar dos jardins das praças e residências de nossa Cachoeiro de Itapemirim.

Sente até que deveria sair gritando, para que todos soubessem o contentamento que existe dentro do seu coração. Quando pensava que todos o tinham abandonado, sente a felicidade em imaginar que ainda a tem [...]

Ainda um pouco assustado, olha para os lados e confirma: olhando para ele, calada, com a expressão de quem tem alguma coisa para fazer [...] ela está ali, o olha, sorri e continua do mesmo jeito...

E ele sentindo-se seguro relaxa... Respira fundo e tranqüilamente... Porém, ainda um pouco reticente, tenta tirar seu pé da beira do abismo imaginário que se formara á sua volta.

Olhando para ela, como se estivesse se sentido na obrigação de lhe agradecer por estar ali em sua companhia, pensa como em outras dezenas de ocasiões semelhantes, muito embora em outras companhias, que por um triz tinha escapado das inúmeras ciladas que o destino lhe aprontara.

Naquele momento ele medita como nas outras vezes:- Poxa, esta foi a pior armadilha da qual consegui escapar.

Quando estava quase conseguindo livrar-se do abismo que se deparava à sua frente, sente que alguém estava se aproximando [...]; naquele momento ele sente a presença dela cada vez mais perto... Seu coração se enche de alegria, sua alma fica mais feliz, agradece a Deus; ela se aproxima mais um pouco e sorrir... Retribuindo o seu sorriso, ele também sorrir confiante.

Naquele momento ele lhe estende as mãos num gesto de completo sentimento de confiança.

Instintivamente fecha os olhos, não tinha mais nada a temer... Ela estava ali, lhe transmitindo segurança e amor.

De repente ele sente uma sensação estranha e se assusta...

É tarde demais... Seu corpo que ainda estava apoiado na confiança que ele lhe dedicava, encontra-se agora totalmente sem equilíbrio.

Num gesto automático e instintivo ele abre os olhos, e a vê que continua sorrindo...

Devagar para não causar nenhuma suspeita se aproxima mais e mais, ele se alegra... De repente se assusta, em seguida perde o equilíbrio, não há mais tempo...

Sem nenhum escrúpulo ela o empurrou... Ainda sem entender nada do que estava realmente acontecendo, apenas consegue balbuciar... Adeus meu amor... Que Deus te perdoe.

Justamente naquele momento em que pensou que ela o fosse amparar... Impiedosamente ela o empurrou no abismo. Até hoje os antigos contam que ainda se conseguiu ouvir baixinho o final de sua frase que fluía dos lábios daquele homem apaixonado: Adeus amor...

Agora não tenho nem você...!

Do livro ARQUIVOS DE SNAZALACK