O Espelho

Certamente não me tornarei inimigo de quem vier me dizer, como há tantos que insistem, que somos, a raça humana e toda forma de vida na terra, obra duma bactéria por ocasião duma explosão qualquer. Tampouco me afastaria do sujeito – na esperança de vê-lo demovido do seu equivoco.  Mas a cada dia que vivo, descobrindo coisas novas e evolutivas no campo espiritual, me convenço do que compreendo acerca de sermos sim, obra da criação dum Ser Celestial, que não atende por Explosão, definitivamente. Esta que me conduz, e confirma sermos, todos, peças dum propósito que não é nosso. Isto por que explosão não pensa, evolui, tampouco tem inteligência.

Até caberia uma citação sobre minha experiência com um sujeito, a quem chamamos de Montanha, um Xamã, que me levou à uma selva, onde, naturalmente, havia muitas árvores - vegetais (ver em A Confirmação, e O Xamã). E o resultado que tal experiência me trouxe em termos de aceitação, e crescimento, tanto mental quanto espiritual, que inclusive tem muito a ver com tudo o que você está lendo. Mas a vez é doutra mensagem.

Elas são duas garotas, adolescentes de 14 anos, gêmeas. No meado do ano passado, 2013, estiveram na minha casa, trazidas por sua mãe, minha amiga que se tornou depois de apresentado a ela, há pouco mais de 15 anos, por um amigo, que viria a ser pai das jovens. Mas que, uma vez pai, as abandonara ainda recém nascidas. Mas a visita a mim nada teve a ver com a vontade de saber notícia do criaturo, como diz uma ex-funcionária nossa, vontade que existe e que não conseguiram esconder. Mas vieram a convite meu, encantado que fiquei ao vê-las criadas, e tão bem educadas, apesar das adversidades que a mãe enfrentou por esse tempo.

Quando alguém me aponta como a um sujeito bacana, exemplar, acredite, até me soa bem, mas não me vejo tanto assim muito menos viajo na maionese – posto que, se, olhando pro chão, me pisarem o calo duas vezes no mesmo lugar, não sobra – ou, quem sabe, não sobrava - mãe de guarda alguma. Entretanto, se houver quem me julgue um insensível, não há distancia que eu não percorra pra discordar.

Mas enquanto você faz a conta acerca do que leu no parágrafo imediatamente acima, pra ver se se encaixa em algum dos seus trechos, em seu todo, ou na pior parte dele, devo registrar que certo amigo, dia desses, sentou a minha frente dizendo que viera se aconselhar comigo. Onde chamei minha esposa e lhe pedi algo, sem revelar a ele que algo era esse, e, enquanto ela não retornava, lhe disse que eu ia lhe apresentar alguém a quem ele de fato devia consultar, antes de procurar seja lá quem ele achasse ser a pessoa certa, e que não o decepcionaria jamais. Distraído, ele não a percebeu de volta na porta do escritório, quando lhe disse, olhando em direção a ela: o cara chegou. Ele se virou e deu de cara com sua imagem refletida num imenso Espelho.

Foi flagrante sua reação de espanto. Ele me olhou, parou por dois ou três segundos que pareceu horas, e me disse algo que não vem ao caso aqui. Conversou um bocado, ainda assim, botou o espelho no carro, com muita dificuldade dado o tamanho, agradeceu – talvez não pelo espelho, mas, quem sabe, pelo presente, e foi embora.

- Nosso sonho é ter um espelho grande no nosso quarto. Diz uma delas, à minha esposa.

Diante da magnificência com que muitos vivem, a singeleza do que essas mocinhas chamam de sonho, e o tanto que são risonhas, e agradáveis, é de envergonhar certos tais que, ainda assim, conseguem reclamar, quando no mínimo, de alguma coisa que lhes contrariam na vida abastada que levam. Muitos que inclusive curtem viver sacaneando seus semelhantes.

Domingo passado saímos, eu e minha esposa, em direção à cidade onde moram, Entre Rios. No jipe o espelho. Que quase não segue viagem devido o tamanho, impedido que esteve pra ser, pela polícia Rodoviária. Lá, não às encontramos. Estavam as três, filhas e mãe, em outra cidade, onde fora defender a sobrevivência da família vendendo alguma coisa num tabuleiro. (lágrimas pingaram aqui).

Hoje, dois dias depois, ligo e tomo conhecimento que estavam aguardando ter credito no celular, para ligar e agradecer o presente. Onde chamo as duas, ainda eufóricas com a novidade, e peço que, pondo o telefone no viva-voz, se postem abraçadas e de costas para o espelho. E, depois de umas duas dúzias de palavras, lhes pergunto sobre o nome quem elas tem como a "melhor amiga" – o natural de todo ser pensante. E diante de ouvir o nome de alguém, lhes peço que se virem, e lhes apresento a melhor amiga de cada: elas próprias, abaixo da mãe, que houve a tudo, quieta ao lado.

Quando teimo sobre sermos criação dum Deus, único, de quem o Poder não cessa, mas expande, o faço porque, tal e qual nossa alma, que vive em busca de sua evolução, a cada dia testemunho nossa sabedoria seguindo na mesma cadência à medida que vivemos. O que, no meu entender, e defender, serve de mola propulsora para o progresso da alma - a depender de cada um. E ao cortar meu cabelo diante dum espelho, também grande a ponto de me refletir do pé à cabeça, sempre me olhei e me fiz muitas perguntas. Das quais não gostava ou aceitava certas respostas. Até que, hoje, me vejo uma árvore frondosa sim. Mas ramificada que está com galhos secos, ou plantas parasitas, que a tornam, senão infértil, ainda incapaz de gerar a rica safra que foi criada para dar.

Não identifico o peso extra do meu tronco como orgulho, prepotência, arrogância, soberba, insensibilidade, ou falta de humildade da mais variada e ampla que possa existir - natural de arvores tantas pela selva da vida afora.  Mas esta é a minha avaliação, deveras suspeita, sobre mim mesmo. O que você talvez me tenha em conta contrária. Mas vejo, ainda, certos ramos dos quais é preciso me livrar, para que cumpra a missão a mim incumbida. A de, no mínimo, me avaliar como à um igual, que perece, assim como todos, enquanto devo estender a mão a um, dois, e tantos quantos de mim precisarem e eu possa alcançar.

E tem sido um amigo muito especial, com quem tenho conversado, e que tenho dividido com tantos quantos de mim se aproximem e que me confieem seus anseios: O Espelho.


PS.: Em nome do Deus que creio, preciso registrar que, ao ir ao Google pesquisar uma imagem para ilustrar este texto, e ao digitar a palavra Espelho, antes de clicar no ícone da Imagem, eis que me abre a manchete: O Espelho. De Machado de Assis. Obra centenária, da qual jamais tive conhecimento. E que diz também de se avaliar diante da peça – ainda que a tonica seja outra. Agora, para você que diz que somos obra do acaso, deixo esse barulho para sua dor de cabeça...