Reflexão do ano que passou

A reflexão sobre um ano que passou ou sobre um novo ano, às vezes, gera dúvidas e sonhos, mas sempre exige calma. O pensamento, pausado e sereno em comparação ao corpo em trânsito, 365 dias. Quantas horas foram dormidas, sorridas, choradas? Quantas vezes você olhou para você mesmo, para o outro ou, simplesmente, para o céu? A reflexão saiu de casa, foi gritar nas ruas, protestando contra o silencio, a dormência e a embriaguez dos corrompidos. Bradou a contradição. O pensamento crítico saiu do conto de fadas do suposto amor de televisão para deflorar a narrativa literária do distintivo humano. Humanos? Animais? Canídeos foram salvos e uma cachorrada foi presa. A perturbação soou geral, e a ideologia ou patologia militar levantou a borracha que transformou leis e disposições de garantia à segurança numa insegurança coletiva e violenta. Esta, a ação violenta, veio ofensiva, mas para algo dizer. O que nos comunicou essa grande perturbação? Foi amoral? Tinha face? Tinha medo? Tinha dor? A máscara escondia quantas lágrimas? Utilizando a Psicologia do sentimento, alguns meses de violência em manifestação foram pura capacidade de sentir. A emoção terna e elevada pariu uma sedução de dor e amor, de ódio e contradição. A reflexão queria tirar a dúvida. O coração que mais doía era o simbólico, pois o de carne acabara de falecer no caos do verdadeiro terror – o revés da saúde pública. Enquanto isso, um filme de invocação do mal lembrou que o melhor exorcismo seria o da incoerência política. Truque de mestre, aos milhares, se beber não case, mas o pior Carrie, ou melhor, Dilma, a Estranha, lembrando que cargo de presidente não é o meu Malvado favorito. A reflexão, ainda sofrida, corria atrás de prazer, mas encontrava mais desgosto. Teve filme de terror de verdade, numa ocasião em que o desejo de lucrar explorou centenas de vidas jovens, demonstrando descaso, risco, jeitão brasileiro e omissão. O incêndio dessa boate queimou sonhos e transformou fantasias e expectativas em utopia cinza – um Kiss de Judas para todos nós. Não teve nenhum herói em Big Brother, como sempre não o tem. Mas teve a morte do grande herói da linha de frente contra o apartheid – Salve Salve Bial, o falso intelectual. Em contrapartida, milhares de intelectuais nas ruas, muitos sabendo o que queriam dizer, outros nem tanto, mas já era um ato de sentir. A ganância continuava solta e o exército saiu do seu tanque de guerra para participar de licitação. Aqui em Brasília, o CAJE, numa ação higienista, foi exorcizado, afastado e removido da convivência social hipócrita para a terra do nunca? Se pudessem seria para o inferno mesmo. Abandonaram o ECA. A reflexão acordou, assim como despertou a natureza. Em fúria valente e de paixão, continuou mostrando o beabá essencial da Ecologia. Continuamos a desmatar e porque não matar mesmo? Alguém dormia enquanto isso? Talvez eu não tivesse mais nenhum raciocínio lógico, sendo sorvido de uma incapacidade básica de separar razão e emoção. O ano foi passando. O nosso foco pessoal converteu os raios de nossa atenção para datas, como, por exemplo, nosso aniversário. O ano continuou, nossa cara refletida no espelho expressava sensações de uma dúvida que nunca acabava, de um certo medo do futuro. O próximo ano é par. Alguém acredita em superstição? A virada chega como a projeção de um vulcão – o orgasmo esperado para sair do sufoco do medo, da raiva, do desespero e da preocupação do ano que passou. Explode tudo, explode fogos e coração. O champanhe traz o sabor que resfria aos poucos todo o tesão. Começa novo ano, vem logo a tensão. A força é prescrita, ordena-se o trabalho. Estudar para ser gente e amar as serpentes caso não tenha sobrado as maçãs. O risco vai depender da reflexão. Nossas dúvidas, 365 dias responderão? Nossas promessas se cumprirão? Nossos políticos mudarão? Nossa saúde sobreviverá? Nosso dinheiro renderá? Nossos projetos acontecerão? Nossa família ficará unida? Nossos filhos crescerão? Nosso time vai ganhar? Nosso salário aumentará? Nossos vizinhos próximos ou países terão direitos garantidos? Nós vamos emagrecer? Enfim, um ano chegará cheio de dúvidas. E para o dia a dia deliciar, se beber, não reflita.

Fábio Alvino
Enviado por Fábio Alvino em 15/01/2014
Código do texto: T4650724
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