Papel digital

Muito me admira a velocidade com que o homem desenvolve certas coisas. A tecnologia tornou-se algo monstruosamente dinâmico e veloz, uma vez que ao tentarmos acompanhá-la é provável que fiquemos, e muito, para trás. Penso até que ponto tudo isso tem graça, se é que o intuito mesmo é ter graça.

Um celular perde muito rápido o seu status de “última geração”, e logo é transformado em sucata digital, motivo de vergonha para aquele que o carrega, pobre incauto parado no tempo. E isso também acontece com televisores, relógios, computadores, carros e seja lá qual aparelho ou objeto você imaginar.

E é assim o mundo em que eu, e você, vivemos, cercado de coisas estranhas demais, dispendiosas demais, necessárias demais, para alguns. E todo esse universo de coisas não se aplica necessariamente aos produtos eletrônicos. Quantos não são os objetos ditos “retro”. Geladeiras, aparelhos de telefone, vitrolas, fogões, rádio e roupas, tudo com um toque de “nossa, que velharia”, mas com o refinado valor das coisas atuais: inalcançável.

Hoje eu li sobre algo interessante: um avião de papel. Na hora eu me lembrei da quantidade de vezes em que passei dobrando, vincando e amassando folhas, tentando fazer um incrível supersônico, capaz de cruzar os céus de minha cidade, ou mesmo o teto de meus pequenos quartos (já morei em muitas casas). Bom dizer que só depois de muito tempo eu consegui aperfeiçoar isso, fazendo com que meus aviões fossem potentes máquinas aladas. No tempo em que trabalhei com crianças, fiz centenas de aviões, muito disputados pelos pequenos que me cercavam. A verdade é que eles nunca ligaram se fosse mal feito ou não; voar era o importante.

Ah, sim. O avião de que eu falei é mesmo de papel, mas com motor, e controlado por um Smartphone. Pois é, amigo, agora ficou fácil deixar o bichano plainando por horas, sem preocupações, sem precisar correr para pegar o avião que caiu longe.

Agora, eu lembro novamente das crianças da escola, e fico pensando em quem realmente voava, se eu, o avião ou elas. Ah, é o tempo, sempre ele, quem voou.