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BANDALHEIRA DE VÂNDALOS
 
 
      Você tem que eliminar, em sua vida, é o ódio; mas, também, o rancor, a inveja, o medo e o olho grande sobre o próximo.
 
      Você tem que extirpar da sua alma é o diz-que-diz; mas, ainda, e muito mais, as coisas fúteis e inúteis, como, por exemplo, o importar-se com o modo de ser dos seus semelhantes.
 
      O que você tem que arrasar em sua mente é o pensamento pequeno; e também as futricas, os preconceitos, a presunção, a maledicência e a falta de compaixão.
 
      O que você tem que esbandalhar da história da sua mísera história é a mania que você preserva, aí e agora, na cabeça, de imitar outrem, de não ter originalidade e achar que seu umbigo é o epicentro do planeta Terra.
 
      Pessoalmente, e pelo meu próprio melhor mais humano, na minha maneira de ser, quisera eu praticar apenas um cêntimo do que acima está exposto.
 
      Mas, não. No elenco de equívocos supra, também lá estou eu inteirinho.
 
      Sei que boa dose dessas rachaduras da porcelana do meu caráter expõe-se nítida e abertamente à vista dos meus mais míopes parentes, amigos e opositores.
 
      Como, desejando tudo de melhor para mim e para os meus semelhantes, ainda posso afirmar sem pudor que, neste vau de lágrimas, sou possuidor de opositores? Visivelmente não os tenho, mas ocultamente...
 
      Esse bobo introito, muito singular, que abre estas mal traçadas linhas – quiçá de uma crônica que se esteia no caos – é para lhes dizer o que vi e ouvi em um relato de reportagem televisiva.
 
      Em Araçá, no Estado de São Paulo, vândalos fizeram a maior bandalheira em um cemitério. O campo-santo ficou todinho em petição de desgraça.
 
      O mausoléu da Polícia Militar, a capelinha, tudo foi mexido e virado pelo avesso. Túmulos comuns ou sofisticados, tudo passou pelo dedo do furacão; cruzes arrebentadas, quase sem ficar pedra sobre pedra.
 
      Aí vem a pergunta: – Que tipo de gente faria à memória dos mortos uma coisa hedionda dessas? Não sei se estaria na lista dos modelos de pessoas do meu introito. Sinceramente, não sei.
 
      O que mais me doeu, vendo as cenas do quebra-quebra àquela cidade dos pés juntos, sem dúvida nenhuma, foi a devastação do altar, as imagens destroçadas, peças de arte esbandalhadas, como trapos inúteis.
 
      Anotei na memória alguns nomes de brasileiros ilustres que foram sepultados naquele vandalizado campo-santo: o famoso magnata da imprensa, do ex-império dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, as atrizes Cacilda Becker e Nair Belo, e o jogador Denner, entre outros, lá estão a dormir o sono da eternidade.
 
      Que perfil de gente podem ter as pessoas que as câmeras das redondezas do cemitério mostraram a se arregimentar para o cometimento da prática do delito?
 
      Aquilo teria razões religiosas para o cometimento do crime, ou motivos de vendeta, ou por crença filosófica, ou o quê?
 
      Suponho que pelas mesmas razões nenhumas que infelizes seres humanos picharam recentemente a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade, no Rio, outras inúmeras vezes arrancando-lhe e lhe subtraindo os óculos de aço.
 
      Em Fortaleza, também, porque o vandalismo é universal, atemporal e burro. Praticam-no pessoas burras, vazias e inúteis à sociedade. Certamente se coadunam a todos os itens do introito acima.
 
      Pois em Fortaleza, igualmente, vândalos, indivíduos totalmente desprovidos de miolo, roubaram os óculos de D. Rachel de Queirós e do “maior poeta oral do mundo”, o nosso Patativa do Assaré.
 
      Ainda na capital cearense, lembro que, da Praça General Tibúrcio, a popular “Praça dos Leões”, dos enormes leões de cobre que existiam lá, dois já foram levados para serem vendidos no peso.
 
      E que vandalizaram a bela estátua de Iracema, na Praia da Volta da Jurema, e destraçaram a herma de D. Bárbara de Alencar ou picharam toda a estátua lacustre da índia Iracema, localizada no meio da lagoa de Messejana.
 
      Por essas razões, todas elas, você tem que ficar atento, autopoliciar-se e ver com olhos bem aberto em que item, lá cima, está metido.
 
Fort., 24/01/2014.
Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 24/01/2014
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