Vício

Cada vez que escrevo em um pedacinho de papel em uma sala de espera, na praia ou até mesmo na fila do supermercado, sempre que vou digitar o que escrevi, fico morrendo de medo. Morro de medo, pois tenho um vício terrível que remonta a época em que era secretária em uma grande Siderúrgica com os meus dezoito anos.

Sempre que vou passar um texto do papel escrito para o digitado, ou nos tempos idos, datilografado, eu acrescento palavras, às vezes frases inteiras e quando estou mais animada já cheguei a acrescentar até mais de um parágrafo inteiro, ou simplesmente inverto as palavras.

Só sei que um texto depois que passa pela minha mão, nunca mais será o mesmo. Meu chefe uma vez me disse que eu era a única secretária que ele conhecia que ao invés de “comer palavras”, as acrescentava mas tudo bem, não modificava grande coisa, naquela época eu era mais contida.

Gostaria de acabar com esse vício pois meus arquivos viram uma confusão, publico no site o texto de um jeito, com um determinado título, depois resolvo lê-lo e acabo mudando alguma coisa. Resultado, o texto já está diferente do meu original.

Como sempre estou cheia de idéias não dá tempo de modificar o original e daqui a pouco já esqueci, estou mais interessada em mudar mais alguma coisa em outra poesia. E meus arquivos, uma bagunça, nada combina com nada.. E o medo. Se volto ao original capaz de mudar outra parte diferente e assim fico presa a esse círculo vicioso.

Uma frase vira um pensamento, que vira um poema, que vira uma crônica que acaba virando um conto e quando eu vejo não é que a idéia dá um livro?

Sempre gosto de imprimir o que eu escrevo, é outro perigo. Quando estou meio sem idéias bato o olho no que eu já escrevi aí até surge uma nova idéia dali, mas acabo querendo mudar o que já está escrito, eu não tenho mesmo jeito.

Quando não encontro nada para mudar, aí fico pensando em outro título, é mesmo um vício, já o carrego a mais de vinte anos, acho que não tem mais jeito, mas o mais difícil eu já fiz, foi admitir que tenho um problema, é meio caminho andado.

A partir de agora me comprometo a me policiar e a ir largando esse vício devagar. Mas por favor, alguém conhece algum grupo de apoio que possa me ajudar a tratar desse mal?


Suzanna Petri Martins
Enviado por Suzanna Petri Martins em 27/04/2007
Reeditado em 28/08/2007
Código do texto: T466290