JOSELITO E A ESTRADA DE FERRO
O barulho do trem já não incomodava. Estavam acostumados. A proximidade da casa com a estrada de ferro em muito alegrava o pequeno Joselito, pois era para ali que ele se dirigia nas tardes quentes, junto com um ou mais amigos.
Eles gostavam de caminhar sobre o trilho do trem. Ia um por vez, enquanto os outros cuidavam da aproximação de alguma locomotiva. No alternar de pé direito, pé esquerdo, e na constância da marcha, a sola dos pezinhos descalços quase queimava no trilho quente. Quem conseguisse percorrer uma distância maior ganhava. Joselito com o hábito e o equilíbrio, era sempre o vencedor!!!
Havia por ali um cruzamento, antes do qual, os veículos sempre diminuíam a velocidade, obedecendo a placa com os dizeres: "Parar, Olhar, Escutar". Talvez tenham sido estas as primeiras palavras, ou a primeira frase que Joselito aprendeu. Gostou tanto que decorou. A placa branca tinha contorno vermelho com as palavras desta mesma cor. O menino gostava de observar se os automóveis seguiriam esta indicação, embora ele ainda não entendesse o tamanho do alerta.
Quando cansavam de caminhar nos trilhos os meninos deitavam na grama verde e ficavam aguardando a passagem do trem. A admiração pelo Maquinista era imensa, como imensa era a fumaça que a velha locomotiva deixava, enchendo os ares e enchendo também todo imaginário infantil. Nesses momentos, os olhinhos curiosos de Joselito esticavam-se procurando espiar o interior de cada vagão, tentando reconhecer seus passageiros, seus destinos e seus pertences. Havia nessa inspeção um misturar de fantasia e realidade.
Os dias passavam e a infância findando levaria, para sempre, e para todos os cruzamentos da vida de Joselito, a necessidade de observar a placa branca com as letras em vermelho: Parar, olhar, escutar...