O que tiver que ser, será?

O que tiver que ser, será?

Era um dia tranquilo como qualquer outro dia tranquilo de outono.

As arvores obedeciam ao clima, cães e gatos se odiavam, cavalos transportavam seus cavaleiros e amazonas, e tudo parecia transcorrer na mais fina sintonia com a normalidade.

José Dias, homem de muitas posses, vivia em sua fazenda no triângulo mineiro, no belo estado das Minas Gerais. Até esse momento, nada de estranho a perceber no início de uma história que será marcada pela confluência de muitos acontecimentos.

Mesmo sendo homem de muitas posses, o reverendo Dias sentia-se muito só em seu ambiente doméstico. Não fosse a igreja e seu fiel rebanho, o homem certamente teria se metido em profunda depressão.

Um dia, confessando a si próprio, José olhou os campos floridos, a safra viçosa..., parecia-lhe que a generosidade divina havia lhe destinado o conforto de ser o homem mais feliz sob a face da terra.

Mas, como toda calmaria é sinônimo de tempestade, havia nele uma perene angustia que assolava seu coração. O fazendeiro certamente poderia sentir-se o homem mais feliz do mundo. – Uma ressalva! Guardava, ele, no mais recôndito escaninho de sua memória, a paixão de ter perdido sua filha para o mundo.

Tal fato encolhia seu coração, mas a fé inabalável o fazia senhor de suas ações. Assim, no vai e vem das atividades de comerciante dos produtos do rancho, José Dias se distrai nas feiras e eventos, que não raro, se apresentam em sua cidade.

É justamente em um desses eventos, que ele vai se deparar com um momento singular para o coração do homem. A presença de uma mulher!

A bela Jussara, promotora de eventos, desfila elegantemente trajada de vestido da noite. O tom pastel a deixa sóbria e ao mesmo tempo, o recorte do vestido, resgata-lhe a silhueta sinuosa a ressaltar a graça e beleza da mulher mineira.

Sem muitas delongas, José é acometido de singular emoção. Não há como negar-se diante do verde fulgurante daqueles olhos amendoados, dos cabelos escorridos, negros coma a graúna, da pele cor de jambo, e dos lábios de Iracema.

Ela própria parecia desfilar diante de José Dias. A emoção que juntos sentimos, nos pôs a chorar pela mesma mulher. E por um momento, pareceu-me lógico tal sentimento.

Pensando no assunto, percebi que estava falando de José Dias. É claro, não poderia eu, interferir nessa historia. Mas, no que me cabe a revelar, vamos aos fatos.

Depois do evento da noite passada, tudo, de certa forma, havia transformado em José Dias. A dor do amor parecia ter tomado conta de si. Mas seu coração parecia lhe contar algo que seu dono era incapaz de compreender: O amor que tomara seu corpo não era o mesmo que tomara seu coração.

Não tardou acontecer. Foi em mais um desses eventos empresariais, que o nosso amigo, ainda abalado pelo primeiro encontro, deparou-se com um acontecimento que, definitivamente, o deixaria marcado pelo resto de sua vida.

No bairro das violetas, no centro de eventos comerciais dos produtos agrários, após a exposição técnica de alguns defensivos agrícolas, fomos convidados a participar do coquetel de lançamento do mais novo defensivo produzido no Brasil.

A confraternização seguia sua normalidade. Até que o jovem empresário, Bartolomeu Andrada, nos chama, e apresenta a bela Jussara a José Dias e eu. Tomados de emoção, nós a cumprimentamos, e o jovem Andrada sussurra em meu ouvido, de forma discreta, pedindo para que eu deixe os dois a sós.

Um pouco contrariado, sai sem levantar suspeitas de minha contrariedade. E como estava na presença de Bartolomeu, me pareceu normal, uma vez que a presença dele era agradável, falar um pouco de banalidades masculina.

Nesse entremeio, fitava de soslaio os dois a conversar. Certamente era meu desejo saber o que tramava o destino para Dias e Jussara. Não podia me conter ao ver que os dois se deliciavam em sorrisos alvos como a paz.

Não tardou o avanço das horas, e já animado com o diálogo amistoso do menino empresário, percebi que Dias se despedira da menina com um beijo afável, típico dos apaixonados.

Esbarei no garoto, como se estivesse alertando-o para o fato. Não me deu muita atenção, e disse estar feliz em ver o amigo de bem com a vida. Imediatamente concordei, e logo caminhamos em direção a José Dias, que parecia ter visto passarinho azul.

Alguns meses se passaram do primeiro encontro, e tantos outros se sucederam àquele. Hoje, nos reunimos para coroar o que parecia obvio acontecer entre José Dias e Jussara: O casamento deles.

Como fazendeiro generoso, estendeu o convite da festa a todos os cidadãos da cidade. Preparou a fazenda para recebê-los, e fez da festa o esbanjar de toda a emoção que sentia e desejava partilhar com seu povo e seus amigos.

A cidade parecia em festa, aliás, festa que transcorreu por uma semana inteira. Fala-se que o fazendeiro no sétimo dia de festa, suicidou ao saber que a mulher tão amada, e já gravida de seu filho, era a filha que a muito imaginara perdida para o mundo. Mais essa é outra história. Desculpe!

Roberto Ramón
Enviado por Roberto Ramón em 28/01/2014
Reeditado em 13/02/2015
Código do texto: T4667887
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